A história da Internet #5: "Batalha Naval"

:compass: A Guerra dos Navegadores (1995–2001)

Quando a Web virou campo de batalha


:globe_with_meridians: O início da Web comercial — e o surgimento da rivalidade

No início dos anos 90, a internet deixava de ser um ambiente acadêmico e militar para entrar no uso doméstico e corporativo. O navegador era a porta de entrada para a nova “World Wide Web” — e quem dominasse essa ferramenta, dominaria a experiência de acesso à internet.

Foi aí que começou uma das batalhas mais ferozes da história da tecnologia: a Guerra dos Navegadores.


:man_scientist::necktie: A gênese da Netscape: Andreessen + Jim Clark

Em 1994, Marc Andreessen, recém-saído da Universidade de Illinois e co-criador do navegador Mosaic, chamou atenção do mercado com sua visão sobre o futuro da web.

Do outro lado, estava Jim Clark, o bilionário fundador da Silicon Graphics (SGI), com faro para revoluções tecnológicas. Ele havia deixado a SGI e estava em busca de seu próximo grande projeto.

A união:

  • Clark viu o potencial do Mosaic e convenceu Andreessen a fundarem uma nova empresa: a Mosaic Communications Corp., renomeada logo depois para Netscape Communications (por questões legais com a Universidade de Illinois).

  • A ideia era criar um navegador de internet comercial, com melhor desempenho, foco em segurança e pronto para o grande público.


:rocket: Netscape Navigator domina a web

O primeiro produto da empresa, o Netscape Navigator 1.0, foi lançado em dezembro de 1994.

  • Era moderno, leve e muito mais rápido que os concorrentes.

  • Suportava gráficos, formulários, cookies, e carregava páginas parcialmente (sem esperar tudo baixar).

  • Logo se tornou o navegador dominante, com mais de 80% de participação em 1995.

:money_with_wings: Modelo de distribuição:

  • O navegador era distribuído como shareware:
    • Usuários domésticos tinham 90 dias de uso gratuito, mas deveriam pagar depois (~US$ 39).
    • Empresas e instituições tinham de licenciar legalmente o software.

:firecracker: A entrada da Microsoft: Internet Explorer chega com sede de poder

A Microsoft percebeu que a web era o futuro — e que estava ficando para trás. Em agosto de 1995, lançou o Internet Explorer 1.0, junto com o Windows 95.

A diferença? Estratégia.

  • O Internet Explorer era distribuído de graça desde o começo.

  • A Microsoft rapidamente integrou o navegador ao Windows, oferecendo-o pré-instalado.

  • Fez acordos com fabricantes de PCs para oferecer apenas o IE.

  • E passou a lançar versões com melhorias agressivas: IE 2.0, 3.0, 4.0…

Em pouco tempo, o Internet Explorer deixou de ser uma curiosidade e virou uma ameaça real ao domínio da Netscape.


:framed_picture: "Este site é melhor visualizado em…"

Naquele tempo, muitos sites exibiam banners recomendando qual navegador usar para melhor visualização.

• Alguns diziam “Este site é melhor visualizado com Netscape Navigator”, incentivando o uso da tecnologia mais moderna e com suporte avançado a novos recursos.

• Outros afirmavam que sua página era melhor visualizada com o navegador da Microsoft, que ganhava tração e começava a suportar suas próprias extensões e recursos exclusivos.

Essa prática refletia não só as preferências dos desenvolvedores, mas também as limitações de compatibilidade entre os navegadores da época — algo que acabava fragmentando a experiência da web e mostrando como a guerra afetava até mesmo o design dos sites.


:crossed_swords: Netscape contra-ataca, mas não consegue acompanhar

  • A empresa lançou rapidamente o Navigator 2.0, depois o Communicator 4.x, que reunia navegador, e-mail, editor de HTML e agenda.

  • Criou o JavaScript, em 1995 (por Brendan Eich), uma linguagem revolucionária para páginas dinâmicas.

  • Mas começou a tropeçar em desorganização, software pesado e bugs.

  • O ritmo de inovação não conseguia bater a força de distribuição da Microsoft.


:balance_scale: Tribunal: a Microsoft no banco dos réus

Em 1998, o Departamento de Justiça dos EUA abriu um processo antitruste contra a Microsoft.

O argumento:

A Microsoft estava usando seu monopólio do sistema operacional para forçar a adoção do Internet Explorer, prejudicando a concorrência (ou seja, a Netscape).

Destaques:

  • Bill Gates prestou depoimento — e sua postura fria e evasiva pegou mal.

  • E-mails internos da empresa diziam claramente que o objetivo era “cortar o ar” da Netscape.

  • Em 2000, a Microsoft foi inicialmente condenada à divisão da empresa, mas a decisão foi revertida em instância superior.

  • No fim, a empresa teve de abrir APIs, permitir que OEMs removam o IE e agir com mais transparência.


:headstone: O fim da Netscape como gigante

  • Em 1998, a Netscape foi vendida para a AOL por US$ 4,2 bilhões.

  • A essa altura, sua fatia de mercado já estava em queda livre.

  • Como resposta, a Netscape abriu o código-fonte de seu navegador — e com isso nasceu o projeto Mozilla.

    • Ele se tornaria o embrião do que viria a ser o Firefox anos depois.

:chart_decreasing: Participação de mercado (2001)

Navegador Participação estimada
Internet Explorer ~95%
Netscape Navigator ~4–5%
Outros (Opera, etc.) ~1%

:brain: Legados da 1ª Guerra dos Navegadores

Inovação Introduzido por Impacto
JavaScript Netscape (1995) Web dinâmica e interativa
CSS Netscape e Microsoft Design e separação de estilo
Navegador integrado Microsoft Mudou distribuição de software
Código aberto na web Netscape (Mozilla) Base para Firefox e software livre

:scroll: Conclusão: vitória judicialmente amarga

A Microsoft venceu a guerra comercial, mas sofreu perdas reputacionais e judiciais que a seguiram por anos.

A Netscape perdeu o mercado, mas deixou dois legados gigantes:

  • A criação do JavaScript

  • O nascimento do movimento Mozilla, que seria crucial na 2ª fase da guerra

Essa foi uma batalha que mostrou que na internet, tecnologia e estratégia caminham lado a lado — mas que distribuição e monopólio podem decidir guerras, mesmo contra quem inova primeiro.


Documentário - A História da Internet A Guerra dos Navegadores - https://www.youtube.com/watch?v=yggAiSFD4Sw


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Isso dá uma impressão de “equilíbrio” – mas na verdade, a “balança” pendia 100% contra o Netscape:

Todo mundo usava MS Word – em geral com um caos de formatações localizadas. – Jornalistas, economistas, advogados, padres, freiras, estudantes, estatísticos etc., todos usavam formatação “local” – parágrafo por parágrafo, e muitas vezes, palavra por palavra.

E bastava copiar aquilo do Word, colar no Front Page, para aquele caos de formatações se espalhar mundo afora, na forma de dezenas, centenas, milhares de tags <span> quilométricas – de um modo que só funcionava no MS Internet Explorer.

Inversamente, você podia copiar qualquer texto do MSIE e colar no Word – com toda aquela maçaroca de formatações caso-a-caso.

Em vez de definir que todo parágrafo <p> usa fonte X, tamanho Y etc. – cada parágrafo já começava com uma tag <span> enorme, especificando fonte, cor, tamanho, estilo, som, cheiro, o escambau – e repetia no meio de cada frase, antes e depois de cada negrito ou itálico – em vez de apenas abrir / fechar <i>, <b> etc.

Nada disso funcionava no Netscape. – Era lixo Word -> Front Page -> MS Internet Explorer – universalizado pelo monopólio do Windows no mundo inteiro.

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Esses banners, pra mim, são uma das “marcas da Internet” nos anos 90 kkkk

Lembro-me, dá uma grande nostalgia. @frc_kde

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Será que hoje em dia o Google Chrome é o "grande navegador " à ser batido?

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Será que hoje em dia o Google Chrome é o "grande navegador " à ser batido?

@DaviLuiz, Pode ser, não é impossível… Nesses 30 anos de internet, muitas coisas que achávamos que seriam para sempre, depois foram superadas. Internet Explorer chegou a ter 94,40% do Mercado em 2003.

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Acho que as situações não são equivalentes:

O MSIE era um software proprietário e fechado – ao passo que o Chromium (o software-base do Chrome) – é de código aberto e livre.

Por isso, existem muitos navegadores baseados no Chromium – inclusive, vários “des-googlados” (ungoogled).

O des-googlamento só não é mais popular (na minha opinião), porque estamos muito dependentes do Gmail, do Youtube, do AdSense etc. (só para dar alguns exemplos).

Até poucos anos atrás, eu usava o Chromium – mas de repente, o Google barrou a sincronização dos navegadores “baseados” no Chrome – e isso afetou o Chromium… embora ele seja a base do Chrome, e não “baseado no Chrome”.

Só no Debian, o Chromium continua sincronizando normalmente. – Acho que o Google preferiu não comprar briga com o Debian.

Outra questão, é que o Chromium tem sido financiado pelo Google. – E se o Google parar de financiar o Chromium? – Acho improvável que o Chromium morra de fome, afinal até a Microsoft faz seu navegador com base nele.

Tirando o Firefox, todos os outros são baseados no Chromium. – É possível que deixem o Chromium morrer de fome?

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É difícil, mas não impossível. Se um dia acontecer, eu acho que não será agora. Ele continua firme e forte.

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O @Dio já fez um vídeo de um que vem por ai

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