BBS: A “Internet” Antes da Internet"
Por Danilo
Julho de 2025
O que é BBS?
BBS (Bulletin Board System) foi a base da comunicação digital antes da internet comercial. Eram sistemas que permitiam que os usuários se conectassem remotamente a um computador via modem e linha telefônica, acessando uma interface em modo texto com recursos como:
- Fóruns de mensagens;
- Compartilhamento de arquivos;
- Jogos de texto (door games);
- E-mails internos;
- Chats.
A conexão era direta: seu computador “ligava” para o servidor do BBS e, com sorte, você conseguia entrar (havia só uma linha disponível na maioria dos casos!).
Como surgiu?
O primeiro BBS surgiu em 1978 nos EUA, com o CBBS, criado por Ward Christensen e Randy Suess. Ele permitia a troca de mensagens entre usuários de um clube de computação em Chicago, conectando via linha telefônica e um modem rudimentar.
Com o tempo, surgiram milhares de BBSs ao redor do mundo, cada um operado por um sysop (System Operator) voluntário, movido por entusiasmo e espírito comunitário.
História do BBS no Brasil
Fase pioneira (fim dos anos 80)
O Brasil começou a adotar os BBSs no final da década de 1980, impulsionado por entusiastas que montavam sistemas caseiros com modems lentíssimos (300 a 1200 bps). Os primeiros BBSs surgiram principalmente em São Paulo e Rio de Janeiro.
Provedores de BBS Notáveis:
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Canal Vip BBS: Uma BBS comercial e foi um dos primeiros a permitir acesso por modem.
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Regra Um BBS: Posteriormente se tornou o provedor Regra Um Internet.
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Sul! BBS: Uma BBS popular no Sul do Brasil, com destaque em sua região.
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STI BBS: Uma BBS que evoluiu para o provedor STI Provedor.
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Brasil Online BBS: Outra BBS comercial que ofereceu acesso à internet.
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Alternex: O primeiro provedor de internet do Brasil, com origem no Ibase, que também operava um BBS.
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ACS Internet BBS: Fundada em 1995, a ACS disponibilizava conteúdo através de seu BBS e foi uma das pioneiras na oferta de conteúdo na internet no Brasil.
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Mandic BBS: Uma BBS comercial liderada por Aleksandar Mandic, conhecida por oferecer serviços como correio eletrônico e tempo de conexão.
O auge (início até meados dos anos 90)
Com a chegada dos modems de 2400, 9600 e 14.400 bps, o uso de BBSs explodiu. Era o principal meio de se conectar à cultura digital: compartilhar arquivos, trocar ideias e jogar.
Redes e interconexões
Durante o auge, os BBSs se integraram em redes de troca de mensagens, trocando pacotes de dados durante a madrugada, via linha discada:
- FidoNet – rede mundial de BBSs.
- Rede Galáctica – rede 100% brasileira.
- SiliconNet, FireNet, AgoraNet, entre outras.
O declínio com a chegada da internet
Em 1995, com a liberação da internet comercial, o modelo de comunicação dos BBSs foi rapidamente substituído por:
- A web gráfica (navegadores como Netscape e Internet Explorer);
- E-mails com domínios públicos;
- IRC e fóruns online.
Muitos sysops tentaram migrar seus BBSs para provedores de acesso, como o próprio Canal VIP, que teve papel importante nessa transição. Outros se encerraram silenciosamente.
O legado dos BBSs
Apesar do fim do uso em massa, os BBSs deixaram heranças profundas:
- Formaram os primeiros fóruns e comunidades virtuais do Brasil;
- Ensinaram lógica, programação e ética hacker a uma geração;
- Foram a base técnica de muitos profissionais de TI;
- Estimulavam a curiosidade, o compartilhamento e o senso de comunidade.
Hoje, existem BBSs ativos acessíveis via Telnet, apenas por hobby ou nostalgia. Ferramentas como SyncTERM e sites como telnetbbsguide.com ajudam a manter essa memória viva.
Como acessar um BBS hoje?
No Linux/macOS:
telnet level29.org
Ou use um emulador gráfico como SyncTERM:
https://syncterm.bbsdev.net
Fontes consultadas
- Jason Scott, BBS: The Documentary (2005)
- Museu da Computação do Brasil
- “A História dos BBSs no Brasil”, artigo de Carlos Machado (2007)
- Arquivo da Rede Galáctica (Wayback Machine)
- Revista Micro Sistemas (1989–1995)
- Canal Retrocomputaria (Podcast e site)
- Lista “BBS Brasil” (bbs-brasil.org, 2000s)
- Fórum Viva o BBS no Telegram (2020–2025)
Vídeos:
Veja também: