KDE Neon: a distribuição Linux KDE ideal? Minha experiência com o sistema

Afinal de contas, o que é o KDE Neon?

Kdeneon

KDE Neon é uma distro “não-distro”. Bem, explicando… O sistema foi idealizado como um repositório que puxa as atualizações mais modernas do KDE por cima da base - praticamente e inicialmente - intocada do Ubuntu LTS. Os próprios desenvolvedores, por isso, consideram a distro como uma “não-distro”, muito embora esteja ganhando popularidade e cada vez mais adeptos que a utilizam como daily driver.

Você pode estar se perguntando: “ué, mas para isso já não existe o Kubuntu?”. Bem, sim e não. Há algumas diferenças notáveis. Primeiramente, é importante destacar que, enquanto o Kubuntu apresenta edições LTS a cada dois anos e point releases a cada 6 meses, o Neon se mantém sempre fixado à atual edição LTS do Ubuntu, e troca de base aproximadamente a cada dois anos, quando a primeira versão de correção do Ubuntu LTS seguinte é lançada.

Por outro lado, enquanto o Kubuntu tende a ser mais conservador com as atualizações do ecossistema KDE (mesmo nas point releases), o Neon tende a estar sempre bem próximo do bleeding edge para a interface Plasma e as aplicações do KDE. Além disso, enquanto o Kubuntu segue diretrizes estabelecidas pela Canonical para sabores oficiais, o Neon possui e aplica filosofias próprias.

O que me agrada no sistema

1) Múltiplas alternativas de empacotamento

Primeiramente, o KDE Neon não discrimina formas de empacotamento. Ou seja, após formatar você já terá acesso a pacotes .deb (dos repositórios oficiais e instaláveis no caso de executáveis externos), Flatpak (com repositório Flathub habilitado), Snap e AppImage (há possibilidade de integração ao sistema após a primeira execução).

No caso do Kubuntu, pacotes Flatpak não são disponibilizados por padrão, sendo o empacotamento por Snap privilegiado.

2) Conceito de núcleo imutável

Embora o KDE Neon ofereça todas essas formas de empacotamento, o sistema tenta forçar, de certa forma, o conceito de núcleo imutável. Ou seja, a instalação de pacotes Flatpak e Snap é fortemente aconselhada, sendo desestimulada a instalação de pacotes tradicionais (.deb) provenientes dos repositórios oficiais. Essa preferência fica visível ao executar a loja de aplicativos (Discover): enquanto pacotes Flatpak e Snap são indexados e destacados, pacotes tradicionais só aparecem em casos específicos.

Dadas as múltiplas vantagens do empacotamento Flatpak e minha preferência por este, considero essa filosofia vantajosa.

3) Totalmente limpo por padrão

Aplicativos pré-instalados podem facilitar a vida de usuários novatos, mas também podem gerar um enorme incômodo quando são indesejados. Neon segue a ideia de ser o mais limpo possível por padrão: não inclui qualquer aplicativo adicional. Os únicos aplicativos incluídos por padrão são ferramentas básicas do ecossistema KDE.

A presença de “bloat” em distros é algo que sempre me incomodou. Prefiro instalar apenas o que preciso, de forma minimalista, e ter controle sobre cada pacote presente em meu sistema. O Neon apresenta, em um sistema amigável, algo quase tão “pelado” quanto o Arch Linux. Considero essa ideologia extremamente vantajosa.

4) Atualizações do sistema completamente integradas à loja de aplicativos (Discover)

A loja Discover é capaz de atualizar todos os pacotes presentes no sistema, sejam eles .deb, Flatpak ou Snap. Há também a exibição de notificação quando uma grande atualização de base estiver disponível (como durante a mudança da base Ubuntu 20.04 LTS para 22.04 LTS). Ou seja, você não precisará se preocupar com a manutenção do sistema, pois o Discover manterá tudo organizado e lhe notificará de qualquer atualização disponível, listando-a detalhadamente. Você também pode optar pela instalação totalmente automatizada.

5) Sólido como uma rocha, atualizado na medida ideal

Por manter a base LTS do Ubuntu e adotar a ideia de “núcleo imutável”, privilegiando o empacotamento sandbox, Neon é naturalmente muito resistente a problemas mais graves que poderiam atrapalhar o fluxo de trabalho. Essa preferência por estabilidade é reforçada por adotar as atualizações por Packagekit, ao invés de Aptitude, e trazer, por padrão, a opção de “updates offline” ativa (ou seja, o sistema pedirá a reinicialização para a instalação de algumas atualizações).

Ao mesmo tempo, por privilegiar o uso de Flatpaks e Snaps, aplicativos estarão, em geral, bastante atualizados. A interface e as ferramentas do KDE, por sua vez, trarão sempre versões super atualizadas, com funcionalidades aprimoradas e a melhor experiência em termos de acesso a novos recursos.

6) Leve

Por ser enxuto, Neon acaba sendo bem leve e fácil de operar em computadores com hardware defasado. É uma ótima alternativa KDE em termos de baixo consumo de recursos.

Pontos negativos?

1) Neon não é o mais performático dos sistemas

Manter a base LTS do Ubuntu por tanto tempo tem um preço: você fica restrito a versões mais antigas de kernel, drivers e pacotes básicos do sistema. Como bem demonstrado em vídeos do Dio, Neon tende a não ter desempenho tão bom quanto distros mais atualizadas e focadas nisso.

2) Não há ferramenta gráfica para gerenciamento de drivers

O Ubuntu e seus derivados oficiais apresentam ferramentas bem amigáveis que auxiliam, por exemplo, no gerenciamento dos drivers da Nvidia. O Neon não oferece esse recurso de forma gráfica, o que pode complicar a vida de usuários novatos, uma vez que também não instala automaticamente os drivers durante a formatação.

3) Bugs menores do KDE serão mais frequentes

Embora problemas graves ou quebras sejam muito improváveis, bugs menores do KDE serão mais frequentes, uma vez que você estará usando pacotes bastante atualizados. Pacotes entregues na versão “User” do sistema passam por um período de avaliação e testes, então não será algo tão arriscado ou frequente, mas espere encontrar um ou outro bug que não estará presente em distros que testam os pacotes por mais tempo antes de atualizá-los.

4) Updates offline podem desagradar

Embora essa opção possa ser facilmente desativada no menu de configurações do sistema, diversos usuários acabam não sabendo disso. De qualquer forma, os desenvolvedores recomendam que essa opção seja mantida ativa para evitar problemas com pacotes do KDE. Ou seja, o ideal é mantê-la ativada, e isso pode não agradar a todos.

5) O uso do terminal pode ser obrigatório em algumas ocasiões

Por não ter, por padrão, ferramenta gráfica de gerenciamento de drivers, e por evitar a listagem de pacotes tradicionais na loja de aplicativos, Neon pode exigir o uso de terminal em algumas ocasiões onde a instalação de alguns pacotes é estritamente necessária. Trata-se de algo pouco amigável ou intuitivo para usuários novatos.

6) O Plasma do Neon apresenta algumas configurações iniciais pouco populares

Por exemplo, abrir pastas com apenas um clique, ao invés de selecioná-las. Esse tipo de comportamento me parece pouco popular e pode confundir usuários novatos.

Considerações Finais

Venho utilizando o KDE Neon há alguns meses e a cada dia gosto mais do sistema. É a distro que menos me trouxe trabalho pós-formatação e que melhor se alinha às minhas ideias. Tem funcionado extremamente bem ao longo desse tempo, e até então me sinto - talvez temporariamente? - curado do distro hopping.

Vale a pena dar uma chance a esta “não-distro”. Pode ser “a melhor de dois mundos”. Deixo, por fim, imagens do sistema já configurado do jeito que eu gosto:

Site oficial do KDE Neon: https://neon.kde.org/

Link para a publicação no Clube do Hardware: KDE Neon: a distribuição Linux KDE ideal? Minha experiência com o sistema - Linux - Clube do Hardware

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Essa é a minha distro principal, se tornou minha distro favorita há mais de um ano e depois disso toda minha equipe de programação começou a usar também, sem reclamações até o momento.

Ubuntu LTS + KDE Plasma = :heart:

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usei por 3 meses mas migrei pro kubuntu por necessidade. o neon atualiza constantemente a versão do kde e isso mudou muita coisa que eu tinha configurado, coisas importantes como configuração de rede e impressão.

como uso meu note no trabalho, preciso de acesso à rede interna. com o neon eu tava passando uns perrengues. com o kubuntu n tenho nada disso. e to usando o kubuntu ppa para atualizar o plasma para a versão mais estável 5.24.5, ja que a oficial parou em .4

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@KairanD, parabéns! Mais um excelente artigo, objetivo e bem organizado, que nos ajuda a conhecer mais do KDE Neon, destacando pontos-chave na proposta e nas características desse sistema.

@acvsilva, seu relato converge com o do Dio no vídeo Usei KDE por 3 meses e foi ISSO que APRENDI. Foi quando ele expôs chateações e dificuldades no uso do KDE Plasma no Neon (e também no Manjaro e no Fedora 35), e apontou o Kubuntu como a distro em que teve boa experiência com o Plasma, tendo sublinhado a questão da estabilidade.

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mas n podemos esquecer que o objetivo do neon não é a estabilidade, mas oferecer sempre a ultima versão do plasma. todos somos bem avisados sobre isso.

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O Neon mantém forte estabilidade na base. Então quebras graves que prejudicam o workflow são menos prováveis, porque muitas coisas nele acabam sendo direcionadas para evitar problemas (como a metodologia de atualização offline, por exemplo). Mas, de fato, o Plasma nele é atualizado para o bleeding edge, então como comentei o usuário precisa estar ciente de que bugs menores podem ser mais frequentes. :wink:

Se não me engano o Plasma do Neon User é mais atualizado até mesmo quando comparado ao Arch.

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