Existem várias questões envolvidas nisso.
Um, é característica do capitalismo. Todos os portais – e a grande maioria dos blogs “pessoais” – visam cliques, pois disso depende sua sobrevivência.
Publique um texto supimpa sobre o Slackware, o Void, o Gentoo, o Bedrock, o NuTyX, e o “retorno” não pagará o trabalho de redigir o texto – mesmo sem contar o tempo de pesquisa, experimentação, testes, o lanche, o café e o açúcar.
Publique uma notícia boba – p.ex., “Revelado o apelido da próxima versão do Ubuntu” – e ganhará muito mais, quase sem esforço.
A primeira consequência, é que mesmo nós, usuários, pouco nos interessamos em postagens sobre o Slackware, o Void, o Gentoo, o Bedrock, o NuTyX etc. – até por serem “pouco conhecidos”, serem “pouco usados” etc. – e o baixo interesse dos usuários realimenta o ciclo vicioso, deixando-as longe do topo no Distrowatch.
Só o que rompe este ciclo vicioso é a “facilidade”. Lembro que os primeiros “ramos” da árvore Linux eram Debian, Red Hat e Slackware, e para instalar qualquer uma dessas distros era preciso queimar as pestanas lendo alfarrábios esotéricos à luz de velas, particionar usando ferramentas CLI, fazer chroot e outros rituais ainda mais cabalísticos. Dizem que o SuSE brotou do Slackware e depois mudou-se para o ramo RPM. Como eu não tinha tempo, olhava aquilo tudo, morrendo de vontade, mas não conseguia experimentar e não entendia quase nada.
Do que acompanhei na época e do que li depois, o Mandrake – uma “distro based” – foi uma das primeiras a despertar “grande” interesse pela “facilidade”. Um iniciante poderia instalar, começar a usar, e ir aprendendo depois, com calma e conforto.
Embora o ranking do Distrowatch (acima) não signifique “uso efetivo”, com certeza é um indicador de “interesse” dos usuários, vontade de saber mais – e num caso assim, vale a pena portais e blogs investirem tempo e trabalho (mais divulgação), pois existe probabilidade de atrair visitantes.
(No início desse período, ainda se usava Yahoo, Altavista etc. para pesquisar na web. O Google ainda não era uma potência avassaladora, e nem sei se o AdSense já existia, ou se já dava camisa a alguém. Em todo caso, a “lógica” já era a mesma, embora nos iludíssemos de que a internet iria nos libertar da “lógica comercial” prevalecente nas publicações impressas).
O Knoppix apareceu com a inovação da sessão Live “pronta para usar” (que o Ubuntu só iria reunir no mesmo CD do “instalador”, vários anos depois). O Kurumin tornou tudo ainda mais fácil, e em poucos anos o Brasil “ganhou” milhares de novos usuários Linux. Mas foi a Canonical – enviando CDs grátis a qualquer lugar do planeta – quem abocanhou o “mercado” e se catapultou para o 1º lugar, onde se manteve durante anos.
A partir daí, valia a pena publicar sobre o Ubuntu, pois sua “facilidade” já era garantia de atrair visitantes. Todo iniciante tinha interesse em saber mais sobre ele. Todos os que experimentavam queriam ler dicas.
O Mint foi o beneficiário seguinte, por ser um pouco mais amigável.
Note que em 2002 o Debian estava em 4º lugar, caiu para 5º, 6º, 7º, e só a partir de 2008 voltou a subir, chegando ao 3º lugar em 2013; e o 2º lugar de 2015 a 2017. Estava se tornando um pouco mais amigável ─ e imagino que se beneficiou do enorme público atraído pelos Buntus, muitos de cujos usuários acabaram se interessando pelo “original” ─ mas a partir de 2018 perdeu lugar para Manjaro e MX Linux. O Elementary OS esteve em 3º lugar em 2018 mas não se sustentou. Em 2020, o Pop!_OS chegou ao 5º lugar, acima do Debian.
Eu usei Kubuntu desde 2009, e sempre tentava o Debian (em dualboot), mas ─ apesar dele já estar bem mais “amigável” ─ só uns 10 anos depois consegui me entender com ele.
Sem abrir mão do Debian (passei para o Testing desde Outubro 2016), instalei o Devuan (sempre em dualboot), experimentei o LMDE em sessões Live, mas só fui me interessar pelo MX Linux a partir da versão KDE, em meados do ano passado. Gostei, e mantenho até agora (MX 21 KDE Beta 1). Concordo que é mais “amigável” do que o Debian “original”. Sinto falta de um ou outro pacote, e só não recomendo mais, porque a ajuda está muito concentrada em 1 só fórum, e ainda por cima, em inglês.
Também uso o Arch desde 2017 (via “instalador”), gosto muito, mas tenho de reconhecer que o Manjaro é mais “amigável”, e agora tenho os 2 (sempre em dualboot).
Uma coisa que precisa ser observada, ao falar de Ubuntu versus “Buntu-based” é que o Distrowatch trata esse pequeno universo de modo diferenciado ─ como se Ubuntu MATE, Lubuntu, Xubuntu etc. fossem distros separadas. ─ Somando todas, estaria em 1º lugar, com folga, bem acima do Mint e do Debian, ainda em 2017.
A meu ver, as “Buntu-based” são apenas as que não seguem o comando da Canonical e não usam o nome do Ubuntu.
Caramba… Eu jamais recomendaria Gentoo, nem Slackware, pelo simples motivo de que não saberia ajudar a pessoa, depois.
Para “realmente iniciantes” continuo recomendando Mint Cinnamon, Kubuntu, talvez KDE Neon ─ e se a pessoa já conhece alguma coisa, posso até recomendar Manjaro ou MX Linux. ─ Mas cada vez “recomendo” menos, pelo simples motivo de que as pessoas querem um monte de coisas que não tenho (NVidia), não uso (games), ou nem sei como se usa (wifi, bluetooth). Parei no “PC Desktop tradicionalzão com cabo de internet”.
Como só tenho 1 máquina, tento manter distros dos vários “ramos principais da árvore Linux” ─ openSUSE, Arch e Manjaro, Debian testing e MX Linux stable, Fedora, PCLinuxOS e Mageia do ramo Mandrake, e Void e Slackware para tentar aprender alguma coisa nas horas vagas. ─ Gosto de ter um pé em cada “ramo principal” dessa “árvore”, mas falta-me virar centopeia.
Dos Buntus, mantenho só o KDE Neon. ─ Ainda tenho o Mint (com KDE), mas estou doido para eliminar. Só que… não encontro outra distro que me interesse no momento. ─ Gentoo, nem pensar, por enquanto.