O que esperar da era pós-Whatsapp

Essa abordagem pode soar um pouco alarmista, mas quando uma parcela significativa de seus usuários começa a olhar para o mercado procurando por opções ao seu produto, algo de errado não está certo. Já vimos situações similares com Nokia, Kodak, entre outras.

Eu gostaria de fazer este conteúdo um pouco diferente dos que venho publicando recentemente aqui no fórum. Hoje, quero utilizar uma abordagem mais autoral. Expondo mais a minha visão sobre o cenário atual, do que necessariamente repercutindo uma notícia.

Estamos mesmo entrando na era pós-WhatsApp?

Os dinossauros sabiam que estavam sendo extintos? Pense nesse paradigma.

Existem pontos de ruptura históricos que forçam seus usuários a escolherem lados (ou produtos) e a crescente busca das empresas (Google, Facebook, Microsoft, etc.) por unificar suas plataformas de produtos como uma fonte inesgotável de dados dos usuários está, cada dia mais, acuando os usuários destes serviços.

Não tínhamos visto ainda, na história contemporânea, tanta discussão em torno de privacidade individual e coletiva, o que chega a ser irônico, uma vez que nunca houve tanta troca e compartilhamento de informações de forma pública.

As empresas que conseguirem encontrar modelos de negócios nos quais a privacidade dos usuários seja respeitada, de acordo com as legislações dos países onde o programa está disponível, e, ainda assim, consigam soluções para rentabilizar seus serviços serão os grandes destaques dos próximos anos.

Cada um com sua culpa.

Os usuários, que normalmente soam como vítimas nessa queda de braço, muitas vezes não ajudam muito. Uma quantidade considerável deles opta por simplesmente não pensar no assunto, usando a solução “que todo mundo usa”, terceirizando a própria responsabilidade sobre seus dados.

Esse é um exercício que todos deveríamos fazer em algum momento: “os supostos benefícios que nós recebemos, realmente pagam a total entrega dos nossos dados para uma empresa, seja ela qual for?” Isso pode te preocupar ou não, e de certa forma não há nada de errado nisso, afinal, os dados são seus.

No meu cotidiano, uso o WhatsApp para tratar de negócios várias vezes ao dia, seja falando com um cliente, um potencial cliente ou um fornecedor. E também, mensagens pessoais nos infindáveis grupos de família, que certamente são o menor dos problemas neste momento, porque existem várias outras soluções muito fáceis de usar para essa finalidade.

Alguém tem que pagar a conta.

Quando encontramos programas que são disponibilizados de forma gratuita, precisamos entender de imediato que fazê-los não foi grátis. Isso custou caro na vasta maioria das vezes, seja na forma de mão de obra especializada, em estrutura, em pesquisas, em desenvolvimento e diversas outras ações que são necessárias para que os produtos ganhem vida.

Existem diversas formas de monetizar um programa, seja usando assinaturas, licenças, doações, etc. Quando olhamos para grandes empresas, que possuem negócios que podem se beneficiar de dados estatísticos, um dos modelos de monetização mais comuns é a reutilização de dados de uso das ferramentas e dos usuários.

De forma geral, essas empresas usam, em benefício próprio ou de parceiros de negócios, os dados de utilização e informação dos perfis dos seus usuários. Sendo que estes dados de utilização podem incluir em alguns casos, trechos das mensagens enviadas, trechos de áudio, além de informações bem detalhadas como para quais grupos e quantos usuários determinadas mensagens foram enviadas.

Reflitam sobre as opções.

Com toda a movimentação em torno das opções, eu procurei olhar de forma objetiva para alguns serviços os quais vejo pessoas próximas a mim utilizando, como: Telegram, Signal, Viber, Messenger, Line, etc.

Desses citados, acredito que no futuro imediato somente o Telegram e o Signal são opções viáveis. Porque todos os demais são apenas os “WhatsApps” que ainda não fizeram grande sucesso no Brasil. E tem, em maior ou menor grau, os mesmos problemas de privacidade e acabam não chamando tanto a atenção devido a base de usuários bem menor (no Brasil).

Telegram e Signal

Se fizermos uma pesquisa rápida sobre opções ao WhatsApp, esses provavelmente são os dois nomes mais recorrentes.

Telegram

Um mensageiro bastante conhecido no mercado, que há muito tempo ocupa confortavelmente posições dentro do “Top 5” como um dos mensageiros mais utilizados no Brasil. Bastante equiparado ao WhatsApp em termos de recursos, sendo até mesmo superior em alguns outros cenários.

Signal

Este aplicativo vem ganhando popularidade já faz algum tempo. E normalmente é um dos nomes a ser citado quando a discussão está relacionada à privacidade dos dados trocados entre usuários. O app vem sendo constantemente atualizado, sempre focando em incorporar novos recursos, mas tendo a privacidade e criptografia em primeiro lugar.

Mas qual a diferença?

Precisamos entender que o Telegram e o Signal procuram resolver o problema de comunicação entre os usuários de forma diferente. Sem entrar em detalhes extremamente técnicos, enquanto o Telegram emprega um modelo muito parecido com o WhatsApp, utilizando um modelo focado em recursos no servidor, onde todas as mensagens são processadas antes de serem enviadas para o cliente, o Signal trabalha com um modelo ligeiramente diferente, através de um protocolo aberto próprio que funciona como uma camada do protocolo MMS, de forma que, as mensagens não precisam ser enviadas para um servidor para chegar ao seu destinatário, seu próprio provedor de telefonia faz isso. O que significa que menos “pessoas” precisam ter acesso aos seus dados para que a mensagem seja entregue.

Esse modelo peculiar do Signal traz alguns pontos interessantes como: criptografia direto no cliente, menos pontos de conexão, maior compatibilidade e a possibilidade de auditoria. A auditoria é possível através da análise do código fonte do Signal, porque todas as implementações (ou a maior parte delas) são baseadas em padrões abertos ou softwares de código aberto. O Telegram também é um software de código aberto e que pode ser auditado dessa forma. A principal diferença, portanto, está na abordagem dos dois projetos.

Não acredite no que eu digo.

Eu trabalho diariamente com comunicação em diversos nichos e entendo o quanto é valioso ter acesso aos dados de mercado e perfis de consumo. E se eu, que atuo em uma escala muito pequena consigo ver valor nisso, vamos imaginar quantas cifras isso pode valer para empresas de escala global como Samsung, Facebook, Google, Microsoft, entre diversas outras.

Temos a oportunidade de sentar em um lugar tranquilo e procurar entender o básico sobre como os mensageiros funcionam, para buscar as soluções que consigam atender nossas necessidades. Tente discutir esse cenário de forma saudável com seus conhecidos e amigos. Eu me lembro perfeitamente que até alguns anos atrás o WhatsApp não era nada além de mais uma opção.

Neste momento, estou olhando atentamente para as opções e pesando o caminho que pretendo testar.

E você? Está procurando por opções ou pretende seguir usando a plataforma WhatsApp normalmente?

Deixe sua resposta nos comentários e vamos enriquecer esse debate.


Links interessantes sobre essa discussão:

  • WhatsApp fica para trás e Signal se torna o mensageiro mais baixado da Play Store (link)
  • Como funciona o Signal [o mensageiro privado] (link)
  • Fundador do Telegram desmente três mitos sobre o app (link)
  • O que é Telegram? Saiba tudo sobre o app russo que é rival do WhatsApp (link)
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legal que a matéria do techtudo diz que o telegram é russo mas o dono não quer essa imagem pra ele

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Para enriquecer o debate só gostaria de lembrar que o cliente do Telegram é código aberto. Já o código do servidor deles é fechado.

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Utilizo o Telegram como segundo mensageiro, porém são poucas pessoas do meu círculo social que o utiliza (Signal então, nem se fala…). Vou tentar usar cada vez menos o whatsapp, mas é complicado quando todos estão lá :confused:

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Esse é um dos meus grandes “pé-atrás” quanto ao Telegram, as críticas do “A quem serve o servidor?” se aplicam bonitinho a ele. Mas enfim, comparado ao WhatsApp (cliente fechado, servidor fechado e clientes alternativos como remendos no Web ou de código fechado também), Telegram é preferível (além de ser simplesmente melhor em termos de recursos - bastou o SMS prestar nos EUA para o WhatsApp não decolar lá).

Fora que no geral, o WhatsApp quase sempre é um dos pacotes mais iguais que os outros que são ilimitados em planos com franquia (dados móveis, por exemplo).

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Eu me lembro bem de uma época onde a “única” forma de falar com os amigos era no ICQ, depois lembro de somente ser possível no MSN Messenger, depois foi no Orkut, depois foi no Facebook Messenger.

Sempre vai haver uma plataforma dominando o mercado, basta que a gente entenda os ciclos e vá evoluindo conforme a necessidade.

:vulcan_salute:

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Sempre vai ter. E o maluco é que as pessoas em geral preferem as piores opções.
Telegram “humilha” o Whatsapp há tempos. Citaria uma dezena de recursos “básicos”, especialmente para trabalho, que o WP fica devendo. E agora o uso dos dados…
Infelizmente, é aquela questão do círculo… Tem que ir pelo que o pessoal usa, senão você não se comunica.

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Provoca mais malefícios do que benefícios para a Humanidade, que venha uma rede mais saudável.

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Taquei o ■■■■-se e já avisei o pessoal do trabalho e a família que não vou utilizar mais whatsapp ( já queria fazer a muito tempo agora tenho uma desculpa :rofl:) e vou passar a utilizar o Telegram, alguns ficaram de mimimi outros já utilizam o Telegram e também o Signal então…

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Eu utilizo diariamente o Facebook e o Whatsapp por serem os aplicativos mais populares pra essas funções e os primeiros que conheci. Antes não tinha tanta preocupação com privacidade, por um lado, por que eu não falo de nada tão secreto. Agora eu já não penso assim, por um simples motivo: não é por que eu não sou um agente secreto que eu queira que fiquem utilizando meus dados para ficar enfiando propagandas o tempo todo e atrapalhando minha experiência. Sei que anúncios rendem dimheiro e tudo mais, mas convenhamos, anúncios são muito chatos! É ainda pior quando atrapalha o que você está vendo, e você não pode pular nem retirar sem acabar clicando e acessando algo que não é seu interesse no momento. Outra coisa é a filosofia open-source: não dá pra saber o que fazem com os dados quando se é algo proprietário, então não dá para confiar. O mesmo acontece com esses programas. Quanto menos dados pudermos estar compartilhando, melhor.

Sobre o elefante na sala: existe alguma maneira de fazer dinheiro com o serviço, sem que tenhamos que utilizar anúncios? Pra mim, sinceramente, é muito mais jogo pagar um valor justo por um serviço e ter meus dados preservados do que utilizar algo free que venda meus dados por aí pra fazer uma espécie de milking com eles. Eu noto isso desde a época que jogava jogos mmorpg: todo jogo free tinha alguma espécie de detalhe que destruia boa parte do jogo, mas quando o jogo era pago, a experiência de jogar era mais agradável. Você progredia e chegava aonde queria se investisse tempo e habilidade. Claro que nem todo jogo pago é assim, mas é possível realizar isso. Por que não pode ser o mesmo com aplicativos de mensagens?

Me surpreendi que, em um grupo do whats, já sugeriram mudar para o Signal.

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Eu sinceramente não conheço nenhuma pessoa que pague por um serviço de e-mail para uso pessoal, todas as que eu conheço que pagam, também utilizam para trabalho a mesma conta. Tirando o exemplo dos jogos, raramente vemos usuários pagando por serviços, não importa o quanto barato eles possam ser.

Essa discussão sobre pagar ou não, é bastante complexa e tem muitas camadas. Mas de forma muito resumida, o usuário médio tende a seguir o caminho mais fácil.

:vulcan_salute:

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:raised_back_of_hand:

Tambem deixei de pagar serviços como NetFlix, IPTV, e passei a utilizar outros serviços pagos alem de pequenas contribuições ao Debian, Projeto Proton, Diolinux…

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Atualmente uso e vou continua utilizando o WhatsApp, acredito que o WhatsApp vai continua perdendo ainda mais usuários mas vai ser mais empresariais eu acredito os usuários comuns que são a maioria eu acredito que é muito improvável deles querer migrar, falo isso por experiência pois na empresa onde trabalho usamos o Telegram já fora da empresa todos os funcionários seguem sua vida utilizando o WhatsApp e meus amigos que conheço todos também usa eu particularmente fora da empresa não conheço nenhuma pessoa que use uma dessas alternativas ( Telegram e Signal ) no dia a dia. Resumidamente eu acredito sim que vai ter uma perca grande de usuários mas não vai significar muita coisa para o WhatsApp é mais um aumento de conversa momentânea daqui uma semana nem vai se ouvi a fala mais disse entra os usuários comuns e nada a não ser no ramo empresarial.

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Acho que um diferencial do Whatsapp pra esses é que ele também é amplamente utilizado para negócios e até pelo setor público, principalmente aqui no Brasil. Hoje qualquer empresa pro menor que seja tem um atendimento por Whatsapp. Atendimentos, vendas e negócios são fechados por Whatsapp. Até varas de justiça nos tribunais tem atendimento por Whatsapp hoje.

As plataformas anteriores que você citou, pelo menos não me lembro, de terem entrado no mundo corporativo de forma tão ampla. E isso assim no caso do Windows, gera uma inércia que se torna difícil de ser quebrada, por que não é mais só uma ferramenta pra você se comunicar com seus amigos e parentes.

Se dependesse apenas de mim, eu usaria apenas o Telegram ou o Signal(até pq eles tem aplicavos dedicados pra Linux), mas infelizmente todos os meu contatos pessoais e profissionais estão no Whatsapp.

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Eram outros tempos, a Internet corporativa engatinhava ainda, e a cultura de atendimento era totalmente diferente.

Meu exemplo foi apenas para citar que existem ciclos e talvez, o do whatsapp esteja começando a se encerrar.

:vulcan_salute:

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Acredito sempre que o debate é valido e que estamos muito em falta com ele.
Gostei deste teu texto opinativo; particularmente do " Alguém tem que pagar a conta" .
Lembro quando o GMAIL surgiu. tínhamos que ter um convite para poder ter acesso a uma conta.
A massificação dos usos de ferramentas cria alguns impasses que temos que entender sedo ou tarde.

A forma de se fazer negócios (dinheiro) mudou muito, ou eu que tenho refletido mais a respeito.
Olha só um exemplo: CashBack ou sistemas de pontuação de cartão de crédito.

Enfim, como outros colegas já comentaram, tudo tem um começo e um fim, assim como Matrix nos ensinou. Cedo ou tarde uma nova onda aparece e muda tudo o que estávamos acostumados.

Parabéns pelo texto.

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O que mais me deixa chateado é as pessoas ficarem dizendo que “O Telegram é russo, vão nos espionar” é o mesmo que dizer que todo brasileiro é ladrão.

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Eu não sei se entraremos ou entramos numa “era pós-WhatsApp”, mas o que me incomoda muito nos mensageiros atuais é o vendor lock-in. Diferente do que acontecia no passado, se tornou inviável tentar utilizar um cliente universal (como Pidgin no Linux ou o levíssimo Miranda no Windows). Eu gostaria não só de uma maior diversidade de opções (com bases de usuários suficientemente grandes), mas também de maior abertura.

Acho que, uma hora ou outra, vão acabar rolando processos de antitruste, mas de qualquer maneira, eu vejo muito potencial no Telegram, porque ele já tem uma comunidade forte aqui no Brasil e alguns bots nacionais. Mesmo jornais pequenos, como o “Notícias de Mogi” e o “Visão Oeste” (ambos da Região Metropolitana de São Paulo), possuem canais no Telegram. O projeto de dados abertos Brasil·IO também tem um canal ativo.

Acho que o Signal está ainda meio incipiente. A abordagem dele me atrai, mas infelizmente não tenho perspectiva para usá-lo. Eu precisaria de cinco mensageiros abertos: WhatsApp de uma fanpage, WhatsApp pessoal (que eu basicamente só uso pra trabalho e família), Skype (uso para telefone fixo), Telegram (meu principal mensageiro) e o Signal. É muita coisa. Pior, de vez em quando uso o Discord, que entra como um sexto mensageiro.

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Em tese, o Telegram permite que outros clientes se comuniquem com seus servidores através de sua API aberta. Inclusive, no próprio site deles existem links para alguns projetos desse tipo.

A xenofobia é algo bastante presente no mundo da tecnologia, infelizmente. Temos diversos exemplos como o Deepin e o Telegram. O que a maioria das pessoas não analisa é que existe 99% de chances do seu computador e celular terem sido completamente fabricados na China.

E não me lembro de ter visto alguém se negar a comprar um IPhone porque era feito na China. :wink:

:vulcan_salute:

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Estava mais cedo conversando com uma amiga, que perguntou nos stories do Insta se as pessoas estavam mesmo mudando pro Telegram ou pro Signal.
E aqui vai a análise da minha realidade: olhando ao meu redor, e pros grupos e pessoas que conheço que usam o Whatsapp, algumas até imagino migrando pro Telegram, mas pro Signal acho muito dificil. Isso pq a grande maioria não dá a mínima sobre como funcionam os mensageiros, o importante é funcionar. E no momento, o Signal funciona? Pra alguns pode ser. Baixei pra ver, e só tinham 20 contatos, de 400 da minha agenda, aparecendo por lá. Ou seja, pra mim não é funcional, não tem utilidade. E imagino que pra boa parte dos meus contatos também, pois não estão usando também haha
Agora, o Telegram eu já vejo muito mais uso entre o “meu circulo social”
Eu mesmo comecei a usar mais durante a pandemia, pois fiz dois cursos online que utilizavam a ferramenta de “Canais” para enviar material e discutir as aulas ao vivo. Depois disso comecei acompanhar canais de ofertas, canais de conteúdo sobre Serviço Social, até o canal da Fazenda -que era ótimo quando eu não entendia o que tava rolando pelo twitter hahaha.
Não sei se estamos vivendo um momento no qual o Whatsapp pode ter sua hegemonia colocada em risco, mas se sim, eu apostaria numa migração pro Telegram, justamente por já ter uma parcela de público que vê utilidade em estar lá.

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