Percepção de Usabilidade e intuitividade da UX/UI

Metáforas esqueumorficas não mudam o problema uma vírgula se quer, tudo continua centrado na ideia de que você precisa ter um conjunto de conhecimentos prévios, um jovem de 12 anos não faz ideia do que significa um disquete para “intuitivamente” salvar. Meus sobrinhos nunca interagiram com um rolodex (uma metáfora de escritório usada como ícone de contatos) para saber que seria a lista de contatos. Nosso conceito de calendário pode não ter mudado tanto, mas 80% do funcionamento do calendário no Mac tem zero conexão possível com um calendário físico, sincronizar, enviar para os amigos, adicionar uma videoconferência? Meus pais diriam definitamente “Ahhn???”.

O pior é que essas metáforas mais prejudicam que ajudam os usuários hoje em dia, é um dos motivos para a maioria dos sistemas ter abandonado o conceito em menor ou maior grau. A simbologia simplesmente evolui e fica mais eficiente com o tempo (mais próxima do problema real), e uma possível conexão com as antigas ferramentas análogas cada vez mais se perde, imagine ter de girar um análogo de um botão físico como nas máquinas de escrever para descer o papel. Enfim, as coisas que fazemos hoje em dia no computador são cada vez mais genuinamente digitais e sem referências sólidas no mundo físico.

A única coisa que não mudou é que ninguém, veio realmente com as instruções gravadas no seu genoma, nem para usar um calendário de papel, nem um computador, muito menos um smartphone.

Veja os exemplos que citei:

  • Internet
  • Calendário
  • Anotações

De quebra vai GPS e listas de tarefas também

A questão não é uso avançado, para uma pessoa comum um calendário é “Preciso de uma agenda de compromisso” e isso é intuitivo, desde cedo por exemplo aprendemos que “+” significa “Adicionar”, e adivinha como gerir eventos básicos no calendário do Mac? exato:

Clica no +

E isso é intuitividade, o essencial é feito de maneira natural nos contra exemplos que cita são coisas não triviais (exceto a questão dos contatos), não tem como deixar elas intuitivas então nada se torna intuitivo, quanto se fala em intuitividade se fala do básico, o essencial, querendo ou não, quando alguém pega um Mac a pessoa consegue fazer um uso básico sem experiência prévia, mesmo executivos da Nokia, uma empresa rival constatou isso nos idos de 2007 ao analisar como crianças reagiam a tecnologias Apple (Macs e iPhones)

Os únicos que meus pais, que não usam Mac souberam identificar em uma interação, foi contatos, e-mail, mapas e calendário, o resto eles não faziam ideia de para o que servia. Como sempre o que é intuitivo para alguém não é para todos, porque intuitividade não é uma coisa intrínseca

Eu gosto do exemplo que Jef Raskin (expecialista em HCI que iniciou o projeto do Macintosh) deu em seu artigo em 1994, sobre como intuitividade é uma coisa que simplesmente faz pouco sentido:

Many claims of intuitiveness, when examined, fail. It has been claimed that the use of a computer’s mouse is intuitive. Yet it is far from that. In one of the Star Trek series of science fiction movies, the space ship’s engineer has been brought back into our time, where (when) he walks up to a Macintosh. He picks up the mouse, bringing it to his mouth as if it were a microphone, and says: “Computer, …” The audience laughs at his mistake.

Esse tipo de argumento recai no velho “ah mas ele não é um Alemão de verdade”, se o alemão está nos olhos de quem vê o alemão é qualquer coisa… De qualquer forma, apenas para curiosidade, eu pedi para o meu pai criar um novo evento, sem dar uma dica sequer, ele está acostumado a usar programas antigos de escritório, dos anos 90 com bordas bem definidas e botões grandes e bem recortados… Depois de 1 minuto futricando no cetro da tela, ele simplesmente se distraiu e voltou a ver TV.

Eu tenho certeza que ele só sabe usar o celular porque ele decorou as poucas tarefas que ele faz diariamente no aparelho.

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Só faltou internet, imagino que eles não tem o hábito de fazer anotações

Na verdade não é nem de longe o caso, praticamente todos os estudo de UX separam as atividades em níveis de complexidade esperada (ver estudos de UX do Nielsen Norman Group, eles tem vastos materiais sobre isso), quanto mais complexo, menos intuitivo, isso é uma tese neurolínguistica (baseada inclusive em tribos autoctones brasileiras) uma introdução básica ao assunto seria eu te mostrar um cubo grande e 2 cubos com metade do da largura do maior e te perguntar quantos cubos qualitativamente e quantos quantitativamente, o segundo é naturalmente mais simples, você iria responder “há 3 cubos” porém a resposta da primeira faria (ou deveria pelo menos) te fazer pensar

Ou seja há uma diferença mensurável entre avançado e básico

E nesse caso, você enviesou o experimento com memória muscular :slight_smile: avaliar isso requer muito mais cuidado

É… embora eles não saibam usar nem os que eles sabem para o que serve. :sweat_smile: Meu pai apenas sabe usar o gmail pois se forçou a aprender para o trabalho, nenhum dos dois entende nada sobre contatos calendários ou mapas, eles abrem, sabem ver que é bonitinho mas não sabem usar. E não é falta de capacidade, minha mãe domina o Ali Express e a Shein melhor que eu. :joy:

Sim, níveis de dificuldade existem, o que não existe a ideia um programa “semi-intuitivo”, independente disso, a maioria dos estudos inclusive do Nielsen Norman Group não tem nenhum exemplo sólido, eles apenas mostram que quão menos complexo a tarefa, maior a chance de alguém conseguir fazer, isso não tem nenhuma correlação sólida com a ideia de intuitividade.

Bem pelo contrário, a intuitividade é um processo involuntária e inconscientemente, mais do que nunca se o aplicativo fosse “intuitivo” a memória muscular dele teria bastado. :joy: um enviesamento seria por alguém que já foi instruído sobre como usar a interface.

E mesmo atalhos no Linux (GNOME) que não são iguais no Linux (GNOME do Pop) :joy:

Poise :joy:, faz parte… Apesar de tudo, eu gosto da abordagem do GNOME, mesmo que eu não use a DE tanto. É revigorante ver um projeto parar com testes redundantes que mostram que um usuário não familiarizado com o GNOME, ahm… Não é familiarizado com o GNOME. :slightly_smiling_face: Explorar diretamente as hipóteses com usuários já familiarizados (x é mais distrativo que y? Fazer assim é mais fácil e eficiente que assado? Etc…), na minha visão, é o que importa.

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Man memória muscular facilitar intuitividade é algo paradoxal, você já está acostumado com um modelo mental, sua “intuitividade” é seguir esse modelo mental isso literalmente mata a intuitividade por definição, você não pode ter um modelo mental concorrente ao avaliar a intuitividade de algo é tão problemático quanto instruir a pessoa previamente

Exatamente, softwares complexos não podem ser intuitivos, perceba software complexo não o que ele faz

Pelo que eu entendi você trata saber usar com dominar o software (se não, não teria citado sincronização de contas e afins) e definitivamente não é isso, pegue um smartphone qualquer e dê a uma criança qualquer mas saudável de 5 anos com o sistema padrão (One UI, MiUI…) mesmo que ela nunca tenha usado um smartphone antes se tiver com Wi-Fi conectado em alguns minutos ela estará assistindo alguma animação infantil, repita o mesmo com um analfabeto em tecnologia idoso e ele estará vendo vídeos de conspiração (geralmente, o algoritmo se aproveita)

Isso é intuitivo, as pessoas cutucam o animal (celular) e ele responde como é com literalmente tudo, o mouse que Haskin cita, tem esse grau de naturalidade?

A questão é que você tem uma definição completamente diferente de intuitividade que quem estuda a área, é a eterna briga de “físico x açougueiro” sobre massa

Gosto de ler o nome dos programas, porque são eles que digito na tela para achar. Um cego não vai ver um ícone…

Esses conceitos de UX/UI da Apple sinceramente não consigo ver nada de extraordinário, o iPhone eu acho super complicado. No Android eu tiro os ícones com o OLauncher. Uma usabilidade incrível: digito 3 caracteres do programa e ele já aparece ali.

Se for pra balizar algo na linha da Apple, o Gnome é muito mais fluido… mas ainda prefiro o Plasma que é direto e objetivo. Com 2 cliques, você chega onde quer, ou sai digitando na tela e já te leva pro destino.

A Dock do Mac é até legalzinha para você colocar os seus favoritos ali.

Meu Plasma é assim:

Aprendi que a melhor coisa é tirar os atritos da frente do usuário. Tudo que tem muito atrito tende a não ser eficaz.

Vou dar o exemplo do fórum aqui. Você ao abrir um post, simplesmente tem uma instrução que se repete toda vez, tem outra na lateral que te recomenda alguma coisa. Para que isso mesmo? Em nome da usabilidade?

O que me interessa mesmo é quantos cliques eu dou para chegar em algum lugar, porque o mouse é cansativo, lento e quanto menos eu usá-lo, melhor eu acho.

Ao fim o que eu penso é que a pessoa fica mais presa na “tendência” do que naquilo que realmente importa.

Um dos maiores entraves é o esforço para não amadurecer as pessoas digitalmente. Tudo que valoriza a ignorância está errado.

A definição que vim usando até aqui, para “design intuitivo” (embora eu não acredite nisso) é como a da international design foundation define o uso informal do termo:

when a user is able to understand and use a design immediately—that is, without consciously thinking about how to do it

(E aqui se enquadra memória muscular, que não exige pensamento consciente.)

Mas explicando melhor a minha visão sobre “design intuitivo”, até a International Desing Foundation admite que não existe um significado padronizado e que ha um interesse em padronizar o termo.

O grupo de pesquisa em uso intuitivo de interfaces de usuário, do instituto, argumenta que intuitividade não é uma funcionalidade do design e sim uma característica da interação entre um usuário específico e um certo design (meu pai e telas dos anos 90, ele não pensa mais para usar aquilo, vem naturalmente).

Por isso eu não acredito no mito da “interface intuitiva”, nem na relevância da intuitividade em design de interfaces. :slightly_smiling_face: Você não precisa concordar comigo de qualquer forma, mas eu continua achando balela dizer que o Mac OS, ou o One UI, ou afins, são intuitivas, exatamente por isso.

Ah, e Isso não impede uma criança, nem um bebê de aprender a usar a tela sozinha.

Design intuitivo na minha concepção é aquilo que desperta o interesse de explorar algo, que desperta curiosidade e que dá um “boom” de ganho pessoal que se traduz em um pensamento “eu consegui”. 90% do UX/UI é pensando em pessoas “normais”, já não se mostra eficiente desde o início excludente.

Na área do design o pessoal usa “learnability design”, acho que a tradução certa seria design orientado ao aprendizado. Algumas ideias básicas ao redor deste tipo de design focam no conceito de tutoriais, dar feedback corretamente, ser consistente, etc. Também gosto do design orientado ao aprendizado, são ideias em geral universais, inclusivas e que acreditam na capacidade de evolução do usuário.

Concordo! Mas o design que aprendemos está relacionado a estética e isso meio que não tem muita relação. É disso que eu falo sempre, será agradável aos olhos tudo aquilo que for entendido e compreendido. O que te torna seguro e confortável é aquilo que você entende. Tem muito mais a ver com linguagem do que com design.

A estética é importante para gerarmos um meio agradável e menos distrativo, e também para chamar atenção, mas eu acho que estética já é um termo completo. Já o design mistura estas coisas, a estética, a usabilidade, etc…

Então, até nisso pensaram, você pode ver? legal, tem um ícone pra você, não pode ver? Legal, tem o projeto ARIA que inicialmente foi pensado para Web mas cada vez mais usado por apps desktop e mobile, basicamente isso expõe uma interface amigável a pessoas com algum grau de deficiência visual com nomes descritivos e uma ordem de acesso mais otimizada que tabulação…

Claro que isso não é da Apple, mas quem desenvolve softwares para a plataforma da Apple foram os primeiros a furar a bolha da Web

Exato

Na verdade não, memória muscular (ou mais tecnicamente memória motora) resulta de um longo período analisando como fazer algo e depois realizando a mesma tarefa incontáveis vezes da exata mesma maneira o exato oposto de:

Se chama UX Design, o problema é que não é isso:

A ideia é que todo mundo que por exemplo, trabalhe com texto consiga formatação básica de texto, seja usando isso:

image

Seja usando isso:

Um exemplo de Design intuitivo (ou de um design de User eXperience intuitivo) é o padrão BIUS, em inglês as formatações básicas de texto são Bold (Negrito), Italic (itálico), Underline (sublinhado) e Strikeout (riscado), embora não seja pré cognitivo, esse padrão, quando aplicado corretamente (o que é estranho ninguém fazer) reduz drasticamente a carga mental, a pessoa associa o nome e o estilo de fonte do botão ao que ela faz automaticamente, claro que a pessoa precisa saber o que é negrito e sublinhado por exemplo, mas explicar isso é algo fora de escopo da interface

Agora o que eu acho curioso é você taxar de mito simplesmente por “não acreditar” crenças são irrelevantes, você não precisa acreditar na gravidade para que você ao pular de um prédio no mínimo quebre alguns ossos, com design é exatamente a mesma coisa, se fosse algo completamente desprezível e apenas para deixar o ambiente limpo e livre de distração, se questione porque a GUI é usada ao invés da TUI, usando Alt+Letra você consegue fazer tudo que faria em uma GUI no entanto o simples ato de deixar um texto em negrito não fica mais tão notório em TUI e definitivamente não é pelo layout já que o layout pode ser diretamente copiado

Se você quiser acreditar que ao usar a memória muscular a pessoa está usando lógica e raciocínio tranquilo, ou que a memória muscular demanda pensamento consciente, tranquilo, eu não vejo assim e para mim se enquadra perfeitamente

Meu pai sabe usar totalmente o Word da era 95/98 e a versão do DOS. Os novos office ele simplesmente não sabe usar nem de perto como estes dois, inclusive eu lembro o parto que foi para ele reaprender cada reinvenção do Word ou qualquer software, a bagunça que se instalava na empresa.

A mera mudança das cores e formas das imagens, remoção de divisões, coisas não mais na posição que ele havia se acostumado, tudo isso fez ele simplesmente não conseguir se achar, o que ele fazia conversando com as funcionárias sem prestar atenção, nem olhar para a tela, viraram um esforço consciente de procurar até refazer a memória muscular.

Ironicamente, enquanto ele precisou imprimir documentos, depois do 95/98 ele voltou a usar uma Máquina De Escrever Elétrica para a maioria dos documentos, só parando mais para frente, quando os softwares que ele usava passaram a gerar automaticamente os relatórios e ele só precisava abrir PDFs para revisar números.

Quando eu digo que não acredito, espero que você entenda que não estou falando de fé, estou falando do consenso na área, intuitividade é um dos termos menos usados na área, hoje em dia já perdeu totalmente a relevância, ou seja, quando eu digo isso é no mesmo sentido de "não acredito em terra plana˜ entende? Existem várias coisas que não são consenso unanime na sociedade informal, mas que os profissionais param de usar ou não colocam mais em relevância por não ser mais considerado correto ou efetivo. :wink: De resto, metade do que você disse que eu disse, não faço ideia de onde você tirou. :joy:

Não é questão de crença a definição de memória muscular implica nisso, algo que se torna habitual após ser feito repetidas vezes…

Não disse que está falando de fé, como eu disse, é algo prático, se você coloca o Word Perfect 6.1 pra DOS e pra Windows 3.1 para alguém não passou décadas usando o mesmo software e por consequência sabe utilizar previamente uma das versão e mostre os resultados, eu já fiz testes similares, eu sei o resultado um usuário “em branco” sempre se vira melhor quando o software tem determinadas características, como por exemplo o padrão BIUS (ou NISR em softwares com localização) sempre saem em vantagem

Seguir a maioria nem sempre é algo positivo, as pessoas sempre querem o caminho mais fácil e isso resulta em coisas bizarras como players de música que literalmente só toca arquivos mp3 consumindo 1,4 GB de RAM… Não é porque não usam que não faz sentido usar na maioria das vezes é ansia de fazer algo lucrativo o mais rápido possível (e com lucrativo não me refiro apenas a dinheiro)

Sim, um monte de coisa perdeu relevância, Clean Code perdeu relevância, liberação prematura de recursos (se eu não preciso de uma janela de Welcome, eu libero os recursos usados por ela, por exemplo), fábricas de objetos, aplicações estáticas multipaginas… Não quer dizer que não são úteis ou importantes, significa apenas que pararam de usar, hoje em dia tem softwares com uma UX tão ruim a ponto de depender de cursos sendo a grande função é ser um fórum… hoje o que vale são contratos B2B se você faz um bom contrato a qualidade do software pouco importa

Principalmente artigos publicados no ACM

Eu concordo, mas o que eu posso fazer se você decidiu que memória muscular envolve cognição deliberada? Eu já disse, discordo disso. Se quiser pensar que estou errado, fique a vontade.

BIUS nada tem a ver com intuitividade, é mais uma questão de seguir uma regra simples: consistência, um conceito de learnability e usability design. Mas novamente, você pode chamar de intuitividade se quiser. Qualquer sistema de scholar ou academic trends, como o exaly vai apontar que diversos outros assuntos são muito mais estudados e muito mais citados que “intuitive design”.

Intuitividade em design é uma coisa vista como holística dentro da área, por diversos estudos e profissionais, e eu concordo. Simples assim, você não precisa concordar.

Quanto ao restante dos seus exemplos, eu discordo de praticamente tudo, especialmente sobre Clean Code (mais da metade do livro nunca foi relevante, nem na sua época, nem antes, nem hoje). O livro só é famoso por alguns pontos específicos. Inclusive podemos agradecer a esse livro por uma pá de código over-engineered atualmente.

Sobre o Office apontado aí tem algo intrigante. Ele piorou e muito em termos de usabilidade. Enquanto isso o Docs do Google preencheu o vazio deixado em nome dessa tal intuitividade.

Todo conceito, por si só, é preferência de uma linha de pensamento. Num mundo sem alternativas vc é obrigado a seguir, no mundo com alternativas os conceitos concorrem entre si. UX/UI é mutável e depende de enes fatores e todos esses fatores são conceituais.

Não existem estudos conclusivos.

Sobre memória muscular é importante dizer que me parece que estamos falando de condicionamento propriamente dito e não de memória muscular.