Vejo 3 “camadas”, que os textos das notícias misturam e confundem a seu bel-prazer – mas que a gente precisa distinguir, pra conseguir pensar com alguma lógica:
- Kernel – a camada mais elementar, de comunicação entre o hardware e o resto dos softwares todos
- SO + DE + Aplicativos básicos – porque 99,9% dos usuários de Mobile não têm o menor interesse num SO só com um prompt + comandos de terminal.
- SO “amplo”, complementar – incluindo lojinha com mil Aplicativos, pra cada usuário instalar o que quiser
Naquele momento, há uns 10 dias, li em algum lugar – não me lembro qual! (rs) – que esse Kernel / OS “não-Android” da Huawei virá com uma pá de recursos que o Android não tem. (Saravá! Aleluia!).
Mas os textos das notícias costumam ser tão mal-redigidos, que não dão a menor pista, se esses “recursos adicionais” referem-se ao “Kernel” – ou ao “OS” básico – ou a uma lojinha, cheia de Apps pro usuário instalar os que quiser.
Agora… Teriam os chineses pegado “o Kernel Linux” original, e criado a partir dele seu próprio “Kernel Huawei mobile” – ou terão descascado e destripado o “Kernel Android” para evitar disputas de Copyright, patentes etc. por parte da Google – dentro do quadro de leis anglo-saxônicas que os EUA conseguiram impor aos mecanismos internacionais de comércio?
Imagino que sua dúvida refere-se a essa hipótese: – De que a Huawei tenha só destripado o Android, sem corrigir as coisas que você gostaria que fossem corrigidas? – Essa é “a pergunta de 1 zilhão de dólares”, he he he… que 99% dos redatores de “notícias” nem pensaram em abordar.
Parece que limitaram-se a reproduzir a conversa de marketing da Huawei na “conferência de imprensa”. – Quando especulam alguma coisa, fora disso, é sobre “espionagem” – mas não vi indício de que tenham questionado (e a Huawei tenha respondido algo) sobre isso.
Seria até perda de tempo – porque “o ocidente” tem uma visão – e “a China” tem outra, totalmente oposta – e nenhum dos lados vai “ceder”, ou sequer considerar a visão do outro.
Um exemplo prático: – No noticiário sobre o ataque do Hamas em 7 Outubro 2003, li um comentário de “fonte não revelada”, de que a “inteligência” do ocidente (Israel) não teria detectado a preparação (durante anos), porque o “lado de lá” teria usado somente aparelhos Huawei de última geração, aos quais a espionagem do “lado de cá” não teria acesso.
Não há como termos certeza alguma, com esse tipo de “informação”. – No máximo, podemos procurar sites, blogs e portais “dos 2 lados”, para não ficarmos desinformados (só) pelo “lado de cá”.
O que achei interessante, no comentário dessa “fonte” não-identificada do “lado de lá”, é que é um “espelho” perfeito (invertido!) de um autor de “ficção / espionagem” simpático a Israel: – o escritor norte-americano Daniel Silva – do qual já li pelo menos 2 livros:
- A Ordem (The Order, 2020)
- Retrato de uma desconhecida (Portrait of an Unknown Woman, 2022)
Nesses 2 romances de espionagem, o personagem principal é um chefe graduado dos serviços israelenses – e ao mesmo tempo, um super-agente com capacidades tecnológicas quase milagrosas. – Ele só utiliza um celular especial, produzido em Israel, que nenhum outro “serviço” (do lado de cá, ou do “lado de lá”) consegue espionar! – E basta ele pedir, que a “central” do serviço dele, lá em Israel, consegue invadir qualquer celular (dos outros, todos), em qualquer lugar do mundo, e mandar a informação que ele pediu, em poucas horas. – No mais, o super-herói é um anjo “do bem”, que recebe ajuda dos serviços italianos, franceses, suíços, alemães etc., e é amigão do Papa.
Esse autor vende bastante, recebe muitos elogios da mídia “ocidental” etc. – Segundo a Wikipedia:
Daniel Silva é filho de pais açorianos[1] emigrantes no Michigan e passou a infância entre Detroit[2] e a California.
Daniel Silva foi produtor executivo da programação da CNN em Washington e em 1987 foi nomeado correspondente no Médio Oriente, no Cairo. Viajou muito por toda a região, cobriu a Guerra Irão-Iraque, o terrorismo e os diversos conflitos políticos na região.[3]
Escreveu vários bestsellers que alcançaram o topo da lista semanal de ficção do New York Times, sendo meros exemplos Moscow Rules que em 2008 entrou directamente para o primeiro lugar (e onde ficaria por mais uma semana),[4][5] ou The Defector, que repetiria o acesso ao topo no ano seguinte,[6] tal como aconteceu a The Rembrandt Affair em 2010.[7]
Acho muito divertido – e muito instrutivo – ver esses “espelhos invertidos”, dos “2 lados”.
Ambos “não-oficiais”, claro! – Ambos, disseminando uma “ficção”, a ser adotada e mantida, por mera “convicção” (lá, ou cá), já que “nada se pode provar”. – Em um caso ou no outro, a geração de uma “visão”, ou “ideologia”, conveniente a 1 lado, ou ao outro.
A única concordância – nessas 2 estórias, dos 2 lados – é que os celulares “Android” são invadidos e espionados, a qualquer hora, e a todo momento.