Tribunal Penal Internacional troca MS Office pelo OpenDesk

O Tribunal Penal Internacional (TPI) está abandonando o Microsoft Office em favor de uma alternativa europeia chamada OpenDesk, marcando um momento simbólico e prático na crescente busca por soberania digital. Um conceito que deixou de ser discurso para se tornar uma linha divisória real na tecnologia global.

À medida que os Estados Unidos reforçam sua influência por meio de políticas e controle de plataformas, instituições europeias vêm buscando caminhos próprios, desenvolvendo e adotando soluções locais para garantir sua autonomia tecnológica e proteger informações sensíveis.

O OpenDesk será a plataforma oficial para gerenciar a produtividade e a colaboração interna, refletindo uma desconfiança crescente em relação a produtos de software fabricados nos EUA, especialmente após uma série de incidentes políticos e comerciais que abalaram a relação entre Washington e instituições internacionais.

Fontes não confirmadas chegaram a afirmar que, durante o governo Trump, a Microsoft teria deletado contas de e-mail do procurador-chefe do TPI, Karim Khan, e de outros funcionários após a imposição de sanções contra o tribunal — algo que a empresa nega.

Em resposta ao anúncio da substituição do Office, um porta-voz da Microsoft enfatizou a importância do relacionamento com o TPI e garantiu que não há nenhum impedimento para continuar fornecendo seus serviços à instituição.

A adoção do OpenDesk pelo Tribunal Penal Internacional é, portanto, mais do que uma simples troca de software: é um movimento político e estratégico. Representa uma mudança na forma como instituições internacionais encaram a confiança em grandes corporações estrangeiras, especialmente em um cenário global onde dados, infraestrutura e segurança digital se tornaram instrumentos de poder.

Ao apostar em uma solução europeia aberta e transparente, o TPI se alinha a uma tendência crescente no continente — a de construir uma infraestrutura digital moderna, independente e à prova do futuro, feita na Europa e para a Europa.

O OPenDesk

É um pacote de escritório e colaboração desenvolvido desde o início com foco em soberania e independência tecnológica. Criado pelo Centro Alemão para Soberania Digital (ZenDiS), oferece um ambiente seguro e escalável para o trabalho corporativo e governamental, inclui calendário, chat, e-mail, contatos, documentos e outras ferramentas que permitem a criação de um espaço digital completo e autônomo.

O ZenDiS foi fundado em dezembro de 2022, como parte da estratégia digital do governo alemão, após um estudo encomendado pelo Ministério do Interior em 2019 revelar uma dependência crítica de fornecedores estrangeiros de tecnologia.

O centro atua como órgão de excelência no desenvolvimento e promoção de software livre e de código aberto (OSS), voltado para o setor público. Assumir o desenvolvimento do OpenDesk representou um marco importante e reafirmou o compromisso em criar soluções específicas para uma infraestrutura digital soberana na administração pública.

Sua missão é fortalecer a autonomia digital da Alemanha e da Europa, permitindo fluxos de trabalho modernos e eficientes baseados em tecnologia aberta e auditável.

Ele atua de forma coordenada em três frentes principais: desenvolvimento estratégico de soluções de código aberto, promoção e integração de projetos OSS confiáveis, e liderança em iniciativas-chave como a plataforma openCode OS e a evolução do ambiente de trabalho soberano (“Sovereign Workplace”).

O ZenDiS é uma empresa pública federal de responsabilidade limitada, com planos de se tornar uma corporação conjunta entre governo federal e estados, reforçando a colaboração institucional em torno da soberania digital.

Embora tenha raízes na Alemanha, o centro já trabalha em estreita cooperação com parceiros europeus para definir padrões comuns de independência tecnológica no continente.

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