Lendo algumas coletâneas de contos, onde Asimov conta sua história de uma forma muito transparente, podemos ver as influências que ele aceitou de Toynbee – e de Edward Gibbon, que escreveu sobre a ascensão e queda do Império Romano.
- Há outras influências que Asimov confessa nas introduções aos contos que ele incluiu em suas coleções. – Omito-as, aqui, para não gastar 3 meses pesquisando minúcias.
Eu não diria que Asimov abraça o determinismo.
Em seus contos e novelas, fica sempre claro que um grupo muito bem organizado de pessoas — os psico-historiadores reunidos na 2ª Fundação — poderia alterar decisivamente o curso da humanidade… desde que usassem as ferramentas da psico-história.
- Tentativas meramente voluntaristas não teriam a menor chance de sucesso.
Isso não é muito diferente do marxismo, segundo o qual certas leis do materialismo histórico determinariam o curso da sociedade, mas… elas poderiam ser dirigidas por uma elite, reunida no Partido Comunista (também oculto, clandestino!), a fim de reorientar ou apressar o futuro previsto.
Em tudo isso, há um paralelo muito forte entre o marxismo — que Asimov rejeita e busca substituir – e sua psico-história.
Asimov evita o conceito marxista de proletariado como força motriz da história — destinada a substituir o capitalismo pelo socialismo (ele não admite nada, exceto capitalismo!) — mas, para rejeitar o marxismo, sua psico-história acaba incorporando vários conceitos fundamentais do marxismo, como a influência (quase) determinante da base material da economia (a direção do desenvolvimento tecnológico).
Em Asimov, não há um Partido (elite) que dirija a classe trabalhadora. – Mas ele acaba propondo outra elite, psíquica, que dirige todas as classes (sem que nenhuma classe perceba que está sendo dirigida).
Com isso, Asimov cria um marxismo sem luta de classes — y sin otras cositas más — que ele não gostava no marxismo.
Para entender a luta teórica de Asimov contra o marxismo, seria necessário estudar o marxismo, Toynbee, Gibbon e algumas outras influências que Asimov revela nos comentários à sequência de histórias soltas, de seus primeiros anos e décadas.
(E repito: - Estou omitindo outros autores cuja influência Asimov também revela naqueles comentários sobre as histórias de seus primeiros anos e décadas como autor. Toynbee e Gibbon me parecem os mais relevantes, pois são autores de ampla abrangência, que filosofaram sobre grandes períodos históricos).
Aqui precisamos lembrar alguns fatos básicos e elementares sobre Asimov e seu tempo:
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Sua família fugiu de uma situação difícil, no início da União Soviética
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Asimov e sua família eram judeus, e seus contos e romances de 1930 a 1949 refletiam sua rejeição pessoal ao nazismo e a tudo o que o nazismo significava ou implicava.
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Os contos e romances de Asimov na década de 1950 refletiam sua rejeição pessoal ao conteúdo neonazista do macartismo
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Ainda no início da década de 1960, Asimov rebelou-se contra várias formas e sintomas de racismo que viu nos EUA.
Na transição das décadas de 1960 para 1970, outros temas foram impostos à sociedade, e Asimov foi sensível e ofereceu uma visão renovada de muitos temas.
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Os antigos computadores que se estendiam por quilômetros e quilômetros de cavernas escavadas (para abrigar tubos de vácuo) evoluíram para computadores mais pessoais
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A ecologia tornou-se fundamental nos novos escritos de Asimov
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A velha Guerra Fria deu lugar a novas perspectivas
Precisamos levar todos esses aspectos em consideração ao ler e reler toda a obra chamada Fundação — reconhecendo que algumas partes foram escritas quando Asimov era jovem, e outras quando ele já estava em outro universo geopolítico. — E quando tentamos colocar a (agora) “multi-logia” Fundação em ordem cronológica, isso implica 2 cronologias diferentes:
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A cronologia “interna” da Fundação
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A cronologia do nosso pobre vale de lágrimas, algumas partes das quais foram escritas pelo jovem Asimov, e outras pelo maduro Asimov
E devemos sempre ter em mente o aviso de Asimov contra a mesquinha exigência de “consistência”.