um professor da Universidade de Brasília (UnB) resolveu desenvolver uma proposta de ferramentas para a escrita dos povos originários por meio de teclados para computadores.
O objetivo do projeto é viabilizar a comunicação dos indígenas em seus idiomas originários.
De acordo com o Censo Demográfico 2010, existem 274 línguas indígenas faladas por 305 etnias diferentes no Brasil.
Rafael Dietzsch, professor e coordenador do departamento de audiovisuais e publicidade da Universidade de Brasília (UnB), explica o projeto e os objetivos futuros na área de pesquisa.
A tese A tipografia das línguas indígenas brasileiras pode ser conferida no repositório da UnB.
Dietzsch analisa a “particularidade” da ortografia das línguas indígenas brasileiras. Isso porque a maioria delas utiliza “caracteres acentuados pouco comuns ou, até mesmo, ausentes em grande parte das fontes tipográficas digitais disponíveis”.
Das 274 línguas indígenas existentes e faladas no Brasil, o professor conseguiu catalogar 111, que ele dividiu em 3 grupos, conforme o nível de complexidade (entenda abaixo).
Ele customizou 2 fontes existentes — Chivo e Faustina — para elas funcionarem em línguas indígenas.
As 2 famílias de fontes são capazes de escrever diversos caracteres usados nas línguas indígenas brasileiras, não codificados no Unicode — que inclui caracteres da maioria das línguas vivas do mundo.
Para levantar os dados, o professor da UnB estabeleceu um recorte: analisar as línguas indígenas que têm uma ortografia estabelecida. A partir disso, ele reuniu informações de dicionários, publicações (livros, revistas etc) e questionários aplicados com linguistas.
Todo o projeto, das informações catalogadas até as tipografias desenvolvidas, está disponível na internet. Para acessá-lo, clique aqui.
Confira os 3 grupos das línguas catalogadas:
-
línguas que usam o layout de teclado ABNT
-
línguas que têm caracteres que dependem de outros layouts de teclado, além do ABNT
-
línguas que utilizam caracteres não codificados pelo Unicode, ou seja, precisam de combinações que não existem nos teclados convencionais (ex: o g com til)
[Tabela dos idiomas - Não consegui copiar]
Depois de catalogar, ele criou três teclados (um para cada grupo) que são capazes de comportar as 111 línguas indígenas estudadas. Contudo, conforme o professor, “o ideal seria a construção de um teclado para cada língua individualmente”.
“O ideal seria que houvesse um teclado para cada língua individualmente, com uma documentação do ponto de vista da informática para que tivesse suporte linguístico adequado”, analisa Dietzsch.
Confira abaixo como funciona um dos teclados:
[vídeo]
o professor revelou que deseja continuar o projeto e oferecer oficinas com estudantes da Universidade de Brasília para desenvolver teclados experimentais para as línguas do grupo 3 (com maior nível de complexidade).
“Como sou coordenador de curso da universidade, me falta um pouco de tempo para me dedicar à pesquisa. Mas, é uma coisa que eu resolvi retomar esse ano”, afirma Dietzsch, acrescentando que vai elaborar uma disciplina para os alunos conseguirem estudar sobre o tema com “uma bagagem técnica melhor para conseguir produzir resultados significantes”.