Durante o Ubuntu Summit, o vice-presidente de engenharia da Canonical, Jon Seager, deu entrevista respondendo a muutas perguntas, inclusive sobr eo futuro da distro, os desafios com o Snap, a fricção com o Flatpak e o caminho em direção a um desktop totalmente baseado em tecnologia “Core”.
O plano é que o Ubuntu padrão, aquele que o usuário baixa no site oficial, seja eventualmente substituído por uma imagem “Core Desktop”, versão imutável e mais segura do sistema, num prazo de 5-10 anos.
A ideia de um desktop imutável ainda está em desenvolvimento. Projetos como NixOS e Universal Blue inspiram a Canonical, embora ainda não exista um sistema operacional imutável de uso geral realmente consolidado, que corra “liso” em diferentes ambientes gráficos, sem comprometer a segurança e a estabilidade.
Um dos pontos centrais para essa transição é o aprimoramento do snapd, com um sistema de solicitação de permissões (“permissions prompting”) habilitado por padrão, semelhante ao que já existe em plataformas como Android, iOS e macOS.
Isso permitirá que aplicativos confinados solicitem acesso a recursos como câmera ou microfone em tempo real, dando ao usuário o controle sobre o que autorizar. Essa mudança será crucial para o “Core Desktop”, que não permitirá Snaps “clássicos” (sem confinamento).
Outros avanços fundamentais incluem o trabalho com criptografia total de disco (TPM FDE) e a ideia de transformar componentes centrais, como o Pipewire, em pacotes Snap, o que facilitaria atualizações e compatibilidade com novos dispositivos; embora traga o risco de usuários que removem o snapd perderem funcionalidades essenciais, como o som do sistema.
Questionado sobre a rivalidade entre Snap e Flatpak, Seager reconheceu que houve problemas recentes — por exemplo, o Flatpak deixou de funcionar em algumas versões do Ubuntu devido a mudanças no AppArmor.
Ele garante que isso não foi intencional e que a Canonical já implementa testes para evitar falhas semelhantes no futuro. Embora o Flatpak não seja prioridade, Seager afirmou não ter intenção de bloquear seu uso.
Sobre a percepção de que o Snap seria “fechado” em comparação ao Flatpak, Seager argumenta que o modelo de loja única tem vantagens de segurança e consistência, comparando-o à abordagem da Apple e do Google.
Para ele, o problema de múltiplas lojas, é que podem executar código com privilégios elevados, o que representa riscos. Uma loja centralizada, com curadoria e comprometimento do fornecedor, seria a solução para a segurança, embora o Ubuntu ainda permita os PPAs e instalação manual de Snaps.
O executivo também reconheceu que a experiência de uso do Linux desktop ainda carece de refinamento quando comparada a Windows e macOS, muito por causa da busca incessante por flexibilidade e personalização. O desafio seria equilibrar liberdade com praticidade, entregando um sistema que “simplesmente funcione”, para a maioria dos usuários.
Seager comentou ainda sobre a consistência e o suporte de longo prazo do Ubuntu, destacando que isso é um atrativo para desenvolvedores independentes (ISVs). A Canonical quer oferecer uma plataforma estável e previsível, com APIs garantidas e suporte de até 12 anos, facilitando o desenvolvimento de aplicativos.
Além do desktop, o vice-presidente destacou o diferencial da Canonical em oferecer uma pilha completa para datacenters — do bare metal ao Kubernetes — usando apenas soluções próprias, como MaaS, OpenStack, LXD, Juju e Ubuntu. Essa integração vertical, segundo ele, é um dos grandes trunfos da empresa, embora também represente complexidade técnica e organizacional.
Por fim, comentou sobre as críticas envolvendo a adoção de ferramentas reescritas em Rust, como o rust coreutils e o sudo-rs, uma “resistência natural” que desaparecerá com o tempo, assim como aconteceu com os coreutils originais do GNU.
O tom geral da conversa mostrou uma Canonical confiante, mas cautelosa. O futuro do Ubuntu passa por consolidar o Snap, refinar o conceito do Core Desktop e, acima de tudo, entregar uma experiência mais segura, moderna e coerente — sem abandonar a liberdade que sempre definiu o ecossistema Linux.
