Abaixo está o texto de Marco Fioretti refletindo sobre a possibilidade do RSS resgatar a confiabilidade das notícias, sem passar pelo filtro da IA e bots das agências. Boa leitura e reflexão!
Vamos encarar os fatos: se, de repente, todas as redes sociais e bots de IA passassem a usar apenas software livre e de código aberto (FOSS), pouca coisa mudaria em relação à desinformação, à polarização sociopolítica e à saúde da democracia.
Mesmo que tivéssemos acesso a todo o código-fonte dessas plataformas, reconstruir algo realmente saudável e conseguir que um número significativo de pessoas adotasse isso levaria tanto tempo e exigiria tanto dinheiro que, na prática, seria quase impossível.
Felizmente, uma parte nada desprezível da solução já existe — e é open source. Só precisamos convencer mais pessoas a usá-la. E, se você me perguntar, essa tarefa é mais importante, mais urgente e, provavelmente, muito mais fácil do que fazer todo mundo migrar para o Linux ou para o FOSS em geral. Estou falando, é claro, do Really Simple Syndication (RSS), que, apesar do que muitos dizem, não é uma tecnologia obsoleta.
Os agregadores de RSS são, ainda hoje, a forma mais eficiente e independente de acessar notícias. Eles reúnem, em uma única janela, as últimas atualizações de quantas fontes você quiser — no seu ritmo, sem intermediários e sem o rastreamento invasivo e centralizado das redes sociais.
Além da privacidade, o RSS oferece duas vantagens enormes: eficiência e ausência de filtragem. Ler notícias em um agregador RSS é muito mais rápido e menos cansativo do que em qualquer rede social, porque nada fica enterrado sob montanhas de anúncios, conteúdo gerado por IA ou distrações intermináveis.
Mais importante ainda: você recebe todas as notícias publicadas por um site, e não apenas as que um algoritmo decide mostrar com base em interesses comerciais ou políticos. É por isso que acredito que convencer o maior número possível de pessoas a usar agregadores RSS é ainda mais urgente do que convertê-las ao uso de software livre em geral.
A polarização política atual nasce, em grande parte, da exposição seletiva — pessoas que só veem notícias que reforçam suas crenças e as convencem de que “os outros” estão errados. É assim que a democracia adoece.
Um dos motivos pelos quais o RSS perdeu popularidade foi a decisão, absolutamente desastrosa, de muitos sites promoverem apenas suas redes sociais, ignorando seus próprios feeds RSS. Essa prática é um tiro no pé.
Promover o uso do RSS também passa por ensinar as pessoas a instalar e usar um agregador open source. Há opções para todos os sistemas, perfis e hábitos de leitura. Entre os mais poderosos, estão os agregadores multiusuário que podem ser instalados em servidores web e acessados de qualquer dispositivo, como o FreshRSS, conhecido pela interface limpa e pelos filtros avançados.
Para quem prefere aplicativos de desktop, o “Akregator” é uma excelente escolha: é eficiente, completo e compatível até com Windows. Usuários de Linux que preferem o ambiente Gnome podem optar pelo “Liferea”, enquanto os fãs do terminal vão adorar o “Newsboat”, uma ferramenta leve e funcional em linha de comando.
Outra forma interessante de consumir RSS é por meio de clientes de e-mail open source, como “Thunderbird” e “Evolution”. Eles permitem baixar, categorizar, visualizar e pesquisar feeds como se fossem mensagens de e-mail. Assim, é possível marcar artigos favoritos, adicionar etiquetas, aplicar filtros e até compartilhar conteúdos com a mesma facilidade de encaminhar um e-mail. Ambos estão disponíveis para Windows, Linux e macOS — e o Thunderbird, inclusive, para Android.
Ainda assim, há um obstáculo importante: as pessoas que mais precisam se libertar das redes sociais, são justamente as que menos usam e-mails. Muitos utilizam o Gmail apenas por obrigação — para criar contas em sites, por exemplo — e não têm qualquer interesse em aprender a usar um cliente de e-mail dedicado.
Nesses casos, apresentar o RSS via Thunderbird ou Evolution pode ser uma barreira. É por isso que, na prática, recomendo começar por algo mais simples e direto, como o Akregator ou outro leitor de RSS fácil de usar.
No fim das contas, informação que realmente quer ser livre precisa de RSS e de usuários. É isso que importa. Cada pessoa que você convencer a adotar um leitor RSS estará dando um passo para fora da jaula das redes sociais e recuperando o controle sobre o próprio acesso à informação.
Dar a alguém um agregador RSS open source é libertá-la do fluxo tóxico e manipulador de “conteúdo” travestido de notícia. E, quem sabe, esse simples gesto também possa ser o primeiro passo para aproximá-la do verdadeiro espírito do software livre.


