O fim de uma Era: o XLibre Xserver e a "luta" pelo futuro do X11

Artigo publicado em linuxiac detalha a tentativa controversa de reviver o X11 e que está sendo substituído pelo Wayland na maioria das distribuições e ambientes de desktop. Essa iniciativa, liderada por um único desenvolvedor, Enrico Weigelt, tem gerado bastante controvérsia na comunidade de código aberto.

A história começa com seu banimento da infraestrutura do freedesktop.org, pelos funcionários da Red Hat. Sua conta, repositórios, tickets e mais de 140 solicitações de mesclagem (pull requests), relacionadas ao projeto Xorg, foram abruptamente excluídos. Ele interpreta essa ação como uma censura e uma tentativa da Red Hat de “matar” o Xorg.

Então criou do Xorg, batizando-o de Xlibre, afirmando que o Xorg foi “capturado” pela Red Hat para eliminar a competição, e que o Xlibre é uma iniciativa para revitalizá-lo e fazer um progresso que estava estagnado.

Weigelt traça um paralelo histórico com a saída de Keith Packard, uma figura importante na comunidade FOSS, que há quase duas décadas criou o Xorg, após um banimento semelhante, encerrando o XFree86. Weigelt prevê uma trajetória comparável para o Xlibre, buscando o apoio da comunidade para tornar o “X grande novamente”.

Ele lançou um novo repositório no GitHub para o Xlibre e uma lista de discussão para reunir apoio. Weigelt enfatiza que o Xlibre é um projeto independente, não afiliado a grandes empresas de tecnologia, grupos ativistas ou governos, e que acolhe qualquer pessoa que trate bem os outros.

As Perspectivas e as Controvérsias Adicionais

Apesar da paixão de Weigelt, o texto expressa ceticismo sobre o sucesso do Xlibre. O autor do texto sugere que, embora não ache que a Red Hat tema um retorno do X11, há agendas sendo empurradas nos bastidores que parecem “fora de sintonia com o espírito do software livre e de código aberto”.

Além disso, o texto menciona uma “controvérsia anterior” envolvendo Weigelt: há cerca de quatro anos, ele fez um comentário “altamente controverso” em uma lista de discussão do kernel Linux, que muitos viram como uma tentativa de politizar a discussão, provocando uma resposta contundente de Linus Torvalds.

O autor conclui que o sucesso do Xlibre é incerto e improvável. Ele argumenta que o X11 é um empreendimento enorme, muito grande para um único desenvolvedor, e que sem um forte apoio da comunidade, o projeto dificilmente ganhará impulso suficiente. A maioria dos principais players do mundo Linux já está migrando para o Wayland, uma solução mais moderna e segura.

No entanto, Weigelt planeja lançar em breve a primeira versão do Xlibre Xserver, prometendo “muitas limpezas de código e funcionalidade aprimorada”. A compatibilidade com a maioria dos drivers Xorg é esperada, embora possa haver desafios com drivers proprietários da NVIDIA.

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É sempre delicado avaliar iniciativas com base em posicionamentos individuais, especialmente quando envolvem embates entre tradição e inovação. A tentativa de revitalizar o X11 através do projeto Xlibre, embora tecnicamente instigante, parece-me mais um movimento de transição do que uma proposta de futuro.

O Wayland, por sua arquitetura modular, representa um verdadeiro oásis para a colaboração em comunidades de código aberto. Ele possibilita iniciativas paralelas, flexíveis e modernas, muito diferente da estrutura monolítica e complexa do X11, que há décadas se tornou um desafio até mesmo para desenvolvedores experientes contribuírem de forma significativa.

Refatorar o X11 pode sim oferecer uma sobrevida e até melhorar a experiência em ambientes legados — como aprimorar suporte melhorado a múltiplos monitores, reduzir latência e limpar camadas antigas do código. Mas, na minha visão, isso tende a servir como uma ponte temporária, não como um destino final.

Estamos em um tempo de polimento do Wayland, e nesse vácuo de maturação surgem naturalmente propostas alternativas. É compreensível. Mas é preciso ter clareza: iniciativas que se “apropriam do passado” para lançar dúvidas sobre o futuro podem acabar confundindo mais do que ajudando. O esforço coletivo para portar aplicações para o Wayland é um processo em curso, sólido, e com apoio crescente da comunidade e de grandes players.

Também reconheço que a Red Hat exerce forte influência na direção de tecnologias novas — vide a imposição do systemd. Essa centralização gera desconforto em quem valoriza a diversidade técnica. Ainda assim, é preciso distinguir entre pressão política e mérito técnico. O Wayland não avança apenas por imposição — ele avança porque resolve problemas estruturais que o X11 já não consegue mais contornar.

Não acho inválida a tentativa de manter o X11 vivo e mais leve. Afinal, por mais de 30 anos ele sustentou boa parte do ecossistema gráfico no Linux. Mas o futuro não espera. E ele já tem nome: Wayland.

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