Apaguem as velas de aniversário, o LibreOffice não está chegando à meia-idade. Entenda por que, na verdade, a suite office open source não está fazendo 40 anos.
Em vez de dizer que “é” – ou que “não é” – sou mais a favor de um:
“É… e não é”.
E recomendo o link postado pelo @rapoelho no tópico anterior – caso alguém ainda não tenha visto.
Estritamente falando, o “LibreOffice”, propriamente dito, não tem 40 anos – mas o “código” (ou a história do código) foi “iniciado” em 1985 – como se vê aqui:
a história do LibreOffice remonta a um programa chamado StarWriter, lançado em 1985
E é claro que o código “inicial” era muito diferente – a começar pelo fato de que era para sistema operacional CP/M “8bits” (e só mais tarde portado para DOS “16bits”) – além de ser apenas um “Writer” (e não uma “suíte” Office):
1985 – Lançado o Star-Writer I, escrito por Marco Börries – inicialmente para CP/M no Amstrad CPC, e posteriormente portado para o DOS.
E vale lembrar que tanto o CP/M “8bits” quanto o DOS “16bits” eram sistemas operacionais “não-gráficos”. – Ou seja, “terminal” (console) com geração de caracteres padronizados (pelo firmware do monitor), largura 80 “colunas” (máximo de 80 caracteres por linha):
Aqui, diz que:
em 1994, evoluiu para o StarOffice, uma suíte completa que incluía não apenas um processador de texto, mas também uma planilha, um editor de apresentações e até um cliente de e-mail.
Em 1994, o Mac Intosh (Apple) e o Windows já ofereciam “ambiente gráfico”. – Não sei se era o caso dessa “suíte completa”. – No Brasil (pelo menos), a maior parte das empresas ainda usavam DOS, pois o Mac era caríssimo; e o Windows exigia hardware parrudo (a começar por monitor “gráfico”), mas havia pouco software para ele, em qualquer parte do mundo.
O “correio eletrônico” já existia desde vários anos (pelo menos, nos EUA) – mas “a Internet” ainda era uma coisa bem tosca. – No Brasil, eu ainda tinha de assinar um BBS (tipo, quadro de avisos), mandar as mensagens para o BBS, que só as encaminhava à noite. – Se o destinatário estivesse acordado, conectado, lesse e respondesse rápido, eu poderia receber a resposta ainda à noite. Mas o mais comum era o destinatário ler pela manhã, a BBS dele encaminhar a resposta para minha BBS na segunda noite, e eu a receberia no 3º dia.
Para termos uma ideia, o Netscape foi lançado no finalzinho de 1994 – e o MS Internet Explorer, na segunda metade do ano seguinte (Agosto 1995).
Precisamos nos precaver, também, contra este “excesso de otimismo”:
O StarOffice era um verdadeiro “canivete suíço” da produtividade. Ele tinha até um navegador integrado, que permitia aos usuários fazer pesquisas diretamente no processador de texto. Imagine só: você está escrevendo um relatório, precisa de uma informação rápida, e o navegador abre no próprio documento. Algo incrível, considerando que frequentemente os sistemas operacionais não possuíam uma interface gráfica, concentrando a produtividade no ambiente do StarOffice.
Em 1994, havia bem pouca “informação” que alguém pudesse “pesquisar na internet”, enquanto escrevia um relatório – e a imagem logo a seguir é do Star Office 5.2, que só foi lançado em meados do ano 2000.
Aqui, um pulo para 1999:
Em 1999, a Sun Microsystems adquiriu a Star Division e, com ela, o StarOffice. (…) eles decidiram liberar o código-fonte do StarOffice sob uma licença open source, criando o OpenOffice-org. // (…) muitos fãs do StarOffice ficaram decepcionados com a perda de recursos como o navegador no estilo gerenciador de arquivos e o cliente de e-mail integrados.
Bom… Se não removessem o “navegador” naquele momento, com certeza teriam removido uns 10 anos depois! – Mais ou menos em 2009, eu “descobri” que o gerenciador de arquivos “MS Explorer” podia navegar na Internet – e que o navegador “MS Internet Explorer” podia gerenciar arquivos locais. – É muito provável que eu tenha sido um dos últimos a “descobrir” isso (rs).
Imediatamente, tentei a mesma coisa no Linux. – O Konqueror, é claro que podia fazer as 2 coisas, pois visava essa dupla finalidade. – Pouco antes, o Dolphin se tornou o gerenciador de arquivos padrão, no KDE 4, em 2008, atendendo exatamente ao reclamo de separar as 2 coisas, de modo a ser “simples” (o princípio KISS, de cada aplicativo fazer só 1 coisa, mas fazer bem feito).
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Tenho a impressão de que, quando recebi uma nova versão do Kubuntu, já com o Dolphin definido por padrão como “o” gerenciador de arquivos, fiz o teste, e ele navegava na Internet – mas não quero afirmar, porque não documentei em PrtScn ou TXT. – Talvez, em algum dos meus “cadernos de informática”… que não têm CTRL+F para me ajudar.
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Essa “descoberta” foi acompanhada de outras, cada uma mais interessante: – Eu podia arrastar uma aba do Dolphin para o Kate, ou para o navegador (Firefox? Chromium?). Era uma festa! – Mas, não posso garantir que tenha sido no KDE 4. Talvez fosse no KDE 3.
Mesmo separado da Internet, o uso do Dolphin como super-usuário (root) – ou o Kate / KWrite – foi considerado perigoso, e foi “deprecado” poucos anos depois.
Agora, imagine um Office aberto à Internet? – Se isso não fosse eliminado em 1999, com certeza seria eliminado em 2009, ou pouco depois.
Outro ponto interessante:
Em 2010, a Oracle (que havia adquirido a Sun Microsystems) decidiu descontinuar o desenvolvimento do OpenOffice-org. Foi então que um grupo de desenvolvedores decidiu criar um fork do projeto, dando origem ao LibreOffice.
A palavra “fork” pode significar muitas coisas – mas tem um odor de “continuação”. – Se for o caso, então a “história do código” tem, mesmo, uns 40 anos.
Mas é claro que não sei nada sobre isso – nem me arrisco a afirmar nada.