Lindows OS: A audaciosa tentativa de unir Linux e Windows em um só sistema
Publicado em: 24 de setembro de 2025
No início dos anos 2000, o mundo da tecnologia vivia um período turbulento: o Linux crescia como uma alternativa gratuita ao Windows, enquanto a Microsoft dominava o mercado com mão de ferro. Foi nesse cenário que surgiu um projeto ousado, polêmico e visionário: o Lindows OS.
Prometendo o impossível — um Linux que rodasse programas do Windows com facilidade — o Lindows atraiu olhares, elogios, críticas e… um belo processo da Microsoft. Neste artigo, mergulhamos na história do Lindows OS: sua criação, ascensão, queda e legado.
A origem do Lindows OS
O Lindows OS foi lançado em 2001 por Michael Robertson, um empresário conhecido por fundar o site MP3.com. Seu objetivo era simples de entender, mas difícil de realizar: criar um sistema operacional baseado em Linux que fosse tão fácil de usar quanto o Windows, e que ainda pudesse rodar os mesmos programas feitos para Windows.
Michael Robertson, O criador do Lindows OS
“Se o Linux vai conquistar o desktop, ele precisa ser tão fácil de usar quanto o Windows. E mais: precisa rodar os programas que as pessoas já usam.” — Michael Robertson, em entrevista de 2002.
Como o Lindows funcionava?
O Lindows OS era construído sobre o Debian GNU/Linux, uma das distribuições Linux mais robustas da época. Mas o que o tornava especial eram dois componentes principais:
1. Wine
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O Wine é um projeto open source que permite rodar programas feitos para Windows em outros sistemas, como o Linux.
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O Lindows incluía uma versão personalizada do Wine, com foco em compatibilidade e facilidade de uso.
2. Click-N-Run (CNR)
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O CNR era uma espécie de loja de aplicativos (muito antes da App Store ou da Play Store).
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Com apenas um clique, o usuário podia instalar programas, jogos, utilitários e pacotes sem precisar entender nada de comandos Linux.
Para quem o Lindows era feito?
O público-alvo era claro:
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Usuários domésticos, que queriam fugir dos altos custos do Windows.
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Escolas, empresas pequenas e lan houses, interessadas em economizar com licenças.
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Pessoas curiosas com Linux, mas assustadas com sua fama de difícil.
O processo da Microsoft
O nome “Lindows” foi uma provocação direta à Microsoft. Era uma junção de “Linux” + “Windows”, e claramente fazia referência ao sistema da gigante de Redmond.
Linha do tempo da disputa judicial:
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2002: A Microsoft entra com um processo contra a Lindows, Inc., alegando violação da marca registrada “Windows”.
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2003: A justiça norte-americana rejeita a tentativa de proibir o uso do nome “Lindows”, argumentando que “Windows” era uma palavra genérica demais.
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2004: Após anos de batalhas judiciais, acordo fechado:
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A Microsoft paga US$ 20 milhões.
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A empresa muda o nome do sistema de Lindows para Linspire.
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Curiosidade: Por um breve período, a empresa passou a vender o sistema sob o nome “Lin—s” para evitar complicações legais, até definir oficialmente “Linspire”.
A queda do Linspire
Apesar do acordo milionário, o Linspire (novo nome do Lindows) começou a perder força rapidamente:
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Problemas de compatibilidade: Muitos aplicativos do Windows ainda não rodavam direito.
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Concorrência: Outras distribuições Linux (como Ubuntu, Fedora e Mandriva) evoluíam rapidamente.
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Críticas da comunidade open source: Muitos acusavam o Linspire de ser “comercial demais” e não contribuir com a comunidade Linux.
Em 2008, a empresa foi comprada pela Xandros, outra empresa de Linux comercial. O projeto ficou inativo por anos.
Renascimento: Linspire nos anos 2020
Surpreendentemente, em 2017, a empresa PC/OpenSystems LLC comprou os direitos do Linspire e relançou o sistema. A nova versão é baseada no Ubuntu, e mantém a proposta de ser fácil, estável e familiar para usuários vindos do Windows.
As versões atuais do Linspire são pagas, mas existe uma versão gratuita chamada Freespire.
Legado do Lindows OS
O Lindows OS não chegou a revolucionar o mercado, mas deixou marcas importantes:
Pioneirismo:
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Foi um dos primeiros sistemas Linux voltados ao usuário leigo.
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Introduziu o conceito de uma loja de aplicativos em Linux, algo que só se tornaria comum muitos anos depois.
Debate sobre marcas e software livre:
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O processo com a Microsoft levantou questões sobre o uso de nomes genéricos em tecnologia.
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A comunidade open source passou a debater os limites entre software livre e produtos comerciais.
Inspiração:
- Distribuições como o Ubuntu herdaram muito do espírito do Lindows: acessibilidade, foco no usuário e simplicidade.
O Lindows OS foi uma ideia corajosa, talvez até ousada demais para seu tempo. Tentou unir o melhor de dois mundos — a liberdade do Linux com a compatibilidade do Windows — e, mesmo sem atingir todo o seu potencial, inspirou muitas mudanças positivas no ecossistema de software livre.
Site do Lindows: Lindows.com