Creio que “tecnologias educacionais” são nada mais do que ferramentas. Pensar dessa forma deixa as coisas mais claras.
Abandonar as crianças com elas, sem orientação alguma, é como largar as crianças numa biblioteca antigamente. Parece uma coisa boa a princípio, mas não é.
A observação de que somente uma minoria vai aprender, se aplica nesse exemplo da biblioteca também, sem orientação, mesmo numa biblioteca, nada impede que a criança leia apenas quadrinhos ou algum material menos edificante, por assim dizer.
Qual era o objetivo a intenção de deixar alguém na frente de um PC ou de um punho de livros? Descoberta? Se for isso mesmo, tudo certo. Se não for, a falta de um objetivo vai gerar qualquer resultado, muito provavelmente inclinado ao que a pessoa já tenha desenvolvido de intelecto até então. Se ela não se desenvolveu muito, não vai se interessar pelo complexo em nenhum momento.
O que muita gente espera erroneamente é que “largando a criança” na frente de um computador ou Smartphone com qualquer App educacional, este tome a responsabilidade pelo aprendizado, o que é se iludir, para dizer o mínimo.
As pessoas aprendem de formas diferentes, e autodidatas sempre levam alguma vantagem em situações onde o ensino precário, porque eles tendem a reduzir o gap que existe entre saber e não saber algo, ainda que possa aprender algo de forma equivocada.
É comum que a maioria aprenda por explicação teórica, prática e repetição, se esse terceto não existir, não realmente importa se se usam ferramentas tecnológicas ou quadro e giz, as pessoas não vão aprender da mesma forma.
Há de se observar que diversas atividades também dependem diretamente do uso da tecnologia atualmente, então, desconsiderar elas nem é uma opção. Uma pessoa atualmente não iria conseguir trabalhar num escritório da mesma forma que faria nos anos 70, saber tecnologia é essencial, não saber “o básico” alienaria ela possivelmente.
As pessoas com “gana por conhecimento” sempre darão um jeito de extrair o máximo de qualquer situação, elas são minoria, a tendência do comportamento humano é encontrar um ponto de equilíbrio e conforto.
Aprender é se tirar da zona de conforto o tempo inteiro, e maioria dos humanos só faz isso por necessidade. Na escola muitas vezes é a nota, nem sempre é pelo desejo de realmente saber como funciona algo. Apaixonar o aluno sobre as coisas é uma das tarefas mais importantes de um professor.
Na época da pandemia, as crianças que não conseguiam se dedicar para aprender, possivelmente não conseguiriam se dedicar 100% no presencial também, o estudo via internet só evidenciava isso mais, ou pior, era usado como desculpa, para apontar um culpado inevitável, já que não existia outra opção.
Quando você está sozinho e obstinado a se desenvolver, não há como “ir com o grupo” ou “ser empurrado para passar”, como eventualmente ocorre no estudo tradicional em turmas e salas de aula. Obviamente é bem mais difícil também, mas a sua métrica de sucesso passa a ser o domínio do conhecimento de fato, e não a sensação de aprendizado.
Assim como você comentou, eu sou um dos que aprendeu inglês graças a tecnologia, mas tive, na época da escola, 7 anos de aulas de inglês, que davam a sensação de aprendizado, mas que não realmente ensinavam.
Não culpo meus professores por isso, eles provavelmente fizeram o melhor que podiam, é uma pena que foi o suficiente.
No fim, a menos que a própria pessoa reconheça a importância de aprender e se dedique, não adianta ter o melhor professor, com as melhores ferramentas tecnológicas. Aprendizado assim depende das duas partes, mas considerando o autodidatismo, certamente mais do aluno.
Sempre vai ser escolha do aluno deixar a aula acabar quando o sinal tocar, ele pode chegar em casa em expandir o que aprendeu através de outras fontes pela internet, ou pode não fazer nada disso.
Infelizmente só depois adultos é que a maioria de nós percebe o quão preciosos eram aqueles momentos da escola, e com a mente mais madura, poderíamos ter aproveitado muito mais aquela jornada.
Imagina só, poder gastar praticamente todo o seu tempo para modelar a sua inteligência? É uma oportunidade que a maioria das crianças não percebe, sei que eu não percebia.
Tecnologia pode ser um fator positivo ou negativo, já que se trata de uma ferramenta, mas é secundário, porque tudo depende de como é aplicado antes de mais nada.