Apresentando o Kunumin - uma distro conceitual

Durante anos o Linux no Brasil sempre teve um fluxo diferente do resto do mundo (inclusive deixando marcas até hoje não só no Linux como até no Windows e Mac), apesar de sua importância e até deixar um sentimento comparável ao luto quando descontinuadas, nós brasileiros no geral nunca demos o devido valor as distribuições “clássicas” do Brasil, então eu resolvi fazer minha própria “distribuição”, mas calma, é uma distribuição conceitual, eu continuei de onde as distribuições Linux “clássicas” pararam. como forma de homenagear os projetos que tanto contribuíram mas foram esquecidos. Para esse projeto eu me coloquei algumas regras para que ele fique mais interessante:

  1. Eu não posso fazer algo que só muda o tema, ou coloca uma dock, tem que ser algo com um grande diferencial
  2. Tem que seguir a linha que as distribuições brasileiras estavam seguindo antes da massificação do Ubuntu

A primeira é óbvia porque se não seria muito fácil, colocaria um plano de fundo que remete ao Brasil, um nome que remete ao Brasil e pronto. Já o segundo ponto abre um leque de oportunidades e desafios

Ambiente desktop

O Plasma por anos reinou absoluto na “era de ouro” da comunidade de distros Linux BR antes do “armagedon”, motivo não faltava (e não falta) KDE é sobre pessoas enquanto outros projetos são fechados em si mesmo (e não tem nada errado com isso) o KDE trás o modelo “Build Yourself” ou seja, ao invés de você se adaptar ao Plasma, o Plasma se adapta a você, como meu desafio é seguir essa linha, não tem outro ambiente melhor

E esse é a customização:

Nesse momento você deve estar achando que eu estou de trolagem e que não tem nada de diferente, afinal só tem o papel de parede e… Ícones mágicos?

Ícones mágicos

Instalar apps de uma loja nem sempre foi o padrão e o mais comum, antes da App Store surgir, no Brasil uma ideia ganhava cada vez mais espaço, ainda sem nome mas a ideia era genial: Uma pasta especial com scripts que instalam os programas

Pode parecer algo besta e non-sense, mas essa ideia veio numa era onde você tinha que saber nomes estranhos e nada intuitivos para instalar programas, esses scripts faziam praticamente mágica, configuravam todo o seu computador corrigindo as dependências, adicionando repositórios e afins para que você após dar dois cliques no arquivo e digita-se a senha, tudo ficaria pronto momentos depois (detalhe, volto ressaltar: não existia loja de apps), era tão mágico que a última implementação dessa ideia recebeu o nome de “Ícones Mágicos”, nessa fase não eram mais scripts mas sim pacotes executando tudo graficamente, eram agrupados em pastas que serviam de categorias, que claro, eu recriei:

Ao abrir a categoria os ícones (ou script dependendo da época) eram listados

Ao dar dois cliques a instalação iniciava, nesse momento você deve estar se perguntando qual era o truque pro Dolphin ficar assim…

Levando o Plasma ao limite

Que o KDE plasma é extremamente customizável isso todo mundo sabe, mas qual o limite? Certamente as distros brasileiras da era de ouro chegaram perto, usando os recursos principalmente do Konqueror faziam quase magia. Todo mostrado na sessão anterior são apenas arquivos e pastas usando um arquivo .directory esse arquivo permite definir o ícone o tipo de pasta e mais, isso permitia o Konqueror (e agora permite o Dolphin) substituir vários aplicativos que usamos hoje, com alguns ajustes nele tudo que pode ser representado numa página estática pode ser representado no Dolphin, até agendas de contato, calendário de eventos e afins, virtualmente tudo que se adequa ao modelo “Criar, Ler, Atualizar e Deletar” pode ser feito no Dolphin, um exemplo disso é esse gestor de contatos:

Usando quatro scripts, algumas modificações no arquivo .directory, e usando pastas para agrupar é possível substituir virtualmente qualquer app de gerenciamento, no exemplo o de Contatos

Beleza, vimos que podemos substituir duas aplicações importantes com o Dolphin o que mais dá pra fazer? Ok, novo desafio, sem sair do Dolphin usando apenas arquivos e scripts extras, o que mais de diferencial um sistema que representa a criatividade do brasileiro pode ter? Primeiro (e talvez mais importante): redefinir a pasta Home, usando os truques acima é possível reescrever completamente a página inicial, nesse caso eu optei por afastar a ideia de pastas avulsas e transformei elas em categorias

As pastas clássicas ainda estão presentes no sistema, mas não diretamente expostas na Home:

Mas porque assim? Da forma como são colocadas, essas pastas são apenas sugestões, além de não cobrirem todos os casos, essas pastas facilmente viram antros de desorganização, da forma como está configurada você até pode fazer bagunça mas vai fazer bagunça em pontos específicos do sistema. E o ponto chave dessa reorganização é que ele permite ainda mais coisas

Levando os padrões do Desktop Linux ao limite

Até agora mexi com configurações do próprio Dolphin, mas o leque de opções aumenta exponencialmente ao mexer nas pastas do XDG, o desktop Linux embora pareça, não é bagunça, ele é regido pelo padrão FreeDesktop que chamamos de XDG (porque XDG é mais legal pra falar que FreeDesktop):

Provavelmente você já viu tutoriais assim:

Para adicionar fontes no Linux:

  1. Baixe a fonte em XPTO
  2. Extraia os arquivos
  3. Abra seu gerenciador de arquivos
  4. Mostre os arquivos ocultos (Usualmente CTRL+H)
  5. Crie se não houver, a pasta .fonts
  6. Copie os arquivos .ttf que você extrair para .fonts

Com essa organização:

Para adicionar fontes no Linux:

  1. Baixe a fonte em XPTO
  2. Extraia os arquivos em Sistema/Fontes

Muito mais simples o mesmo vale para .cache, .config, .autorun, e claro, as pastas .var, snap e AppImage:

Nessa brincadeira substituímos pelo menos dois apps no processo e não para por aí…

…Ou talvez pare

Acho que nesse ponto já deu pra perceber que apenas ajustando o Dolphin dá pra fazer muita coisa, (e muita coisa mesmo, só as que eu fiz nesse ponto do post estamos na metade), mas enquanto eu escrevia eu percebi uma coisa, eu fiz um monte de coisa com Dolphin e ficou legal e útil, mas eu fiz pra quem? Muita gente vai ler esse post alguns vão dar like… mas tudo vai ficar aqui e no meu perfil no GitHub e ser esquecido, se eu lançar uma ISO muito provavelmente conseguirei atrair uma quantidade considerável de usuários mas quantos realmente tem interesse?

Projeto Kunumin

Pensando nisso e querendo evitar gastar tempo e energia em vão eu criei o Projeto Kunumin, a ideia é simples fazer uma campanha de financiamento coletivo no Ko-Fi:

  • Quando atingir 350 reais, eu vou fazer:

    • A parte 2 desse artigo
    • Libero todos os scripts e arquivos que eu fiz até o presente momento (exceto a pasta especial Projetos, e Internet/Servidor) para que todos possam usar, inclusive distros como Big Linux, Tiger OS, Xiva… e outras distros, eu não quero que esse projeto morra comigo
  • Quando atingir 450 reais eu vou comprar o domínio e hospedagem pra projeto com um site próprio

  • Atingindo 1000 reais eu vou implementar um sistema NoCode para que você mesmo possa criar sistemas como o de gerenciamento de contatos que eu mostrei

  • Fechando a meta eu libero as duas pastas mais poderosas que eu vou mostrar apenas no próximo post, a pasta Projetos e a Internet/Servidor

Note que todas as pastas e recursos serão liberados como MIT, isso significa que o que for atingido em cada meta vai ser praticamente de domínio público podendo ser usado inclusive em projetos concorrente, tudo passa a depender agora da comunidade Linux divulgar e claro, financiar o projeto, só pra se ter uma ideia ser for do interesse da equipe do Diolinux divulgar o projeto e claro do interesse da comunidade que ele se torne realidade, fazendo uma conta rápida, se 260 pessoas financiarem com 5 reais o projeto se paga em todos os estágios, como cada vídeo do @Dio bate em média 25 mil views isso significa se 1% do público fiel do Diolinux se interessar essa meta poder ser atingida

Caso a primeira meta não seja atingida o valor será doado

Curiosidade

Kunumin é a pronúncia correta da palavra “Kurumin” menino em Tupi, uma classe de idiomas indígena do Brasil

Conclusão

Agora é com você, gostou do projeto? Deixe a próximo lanche, da cerveja como investimento do projeto se for da sua vontade é claro, abraço e até a próxima

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O link para o Ko-Fi

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Ótima iniciativa, mais se queres utilizar o nome “Kurumin” precisa entrar em contado com Carlos Eduardo Morimoto responsável pelo projeto Kurumin até a versão 7. Ele recusou varias propostas da comunidade de uma continuidade do Kurumin devido a maneira conturbada que acabou o Kurumin NG chefiada por Leandro Soares na época. ( versão sucessora do Kurumin 7)

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Infelizmente o Carlos Morimoto cada dia que passa se torna cada dia mais inacessível isso por escolha dele mesmo, então eu optei por pesquisar no INPI tanto Kurumin (escrita) quanto Kunumin (pronúncia) não estão atreladas (mais) a ninguém então é seguro usar

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Seria legal o Carlos Eduardo Morimoto volta com o kurumin no estilo openbox ou xfce.

Quando acabou, o fez por não fazer mais sentido. Pq ele deixaria a atual vida pacata, para ser xingado e criticado?

Opa, legal o projeto e certeza que você se dedicou no desenvolvimento. Sobre o nome, bem, não tem uma pronunciamento certo pois Tupi é uma árvore linguística assim como o latim, e foram os padres jesuítas que começaram o processo de escrita nas línguas indígenas brasileiras.

No fim, cada povo vai falar de um jeito. Uns vão chamar de pura, outros de kurumim e até tainá também se refere a jovem.

Como linguista, eu acharia legal você dar o nome de garota, por exemplo, de kunhãtá – seria um paralelo bem legal com a distribuição mais famosa do Brasil, o Kurumim.

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Eu tinha marcado para ler isso mais tarde, e graças a uma das respostas daqui esse tópico reviveu.

Eu gostei muito disso. Sei do poder do KDE/Plasma, mas não sabia que o Dolphin era tão flexível assim.

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