Analisando a UX do elementary OS 8 (ou tentando pelo menos)

Enquanto o “Meu Maravilhoso Linux” não fica pronto, vou fazer uma analise de UX de uma distribuição que se preocupa muito com experiência do usuário tendo cerca de 45% de seu guia de desenvolvimento focado apenas nessa parte além de ter seu próprio guia de design, porém mesmo assim tem algumas falhas sérias de experiência (e é claro que eu vou ilustrar um mundo ideal), mas antes um aviso:

Meu objetivo é apenas analisar o sistema do ponto de vista de um estudante de UX, não tenho por objetivo atacar ou desmerecer o trabalho do projeto

O começo…

Começando pelo começo, temos o boas-vindas, esse guia te introduz ao sistema operacional em 8 atos:

De início ele oferece documentação o que seria muito positivo exceto que por um detalhe, como dá pra notar, o Guia Básico é um link para uma página Web, isso é um problema porque primeiro o usuário se quiser ter acesso vai ter que desviar sua atenção para um app, pensando em alguém com pouco ou nenhum conhecimento em desktops ele vai ter que aprender um fluxo de trabalho para aprender o fluxo de trabalho, isso é essencialmente um paradoxo de bootstrap, além disso tem outro problema, essa é única tela onde esse guia aparece então ou o usuário quebra seu locus de atenção ou fica sem o guia básico, soluções:

  • Disponibilizar esse material offline
  • Disponibilizar um ícone de acesso preferencialmente na dock
  • Apresentar essa tela ao final do processo

Depois é apresentado uma tela que permite um ajuste de aparência o que permite o usuário criar uma sensação de expressão de personalidade o que é muito positivo

Na próxima tela é apresentada o recurso de luz noturna, um recurso muito útil mas me questiono se deveria ter uma tela específica, esse questionamento me vem a mente por ela ser basicamente uma chave liga/desliga, considerando que esse recurso altera a aparência do sistema faria mais sentido ser incluso na tela anterior que inclusive já possui um recurso similar

Nessa tela é mostrado um utilitário bem interessante para os acumuladores de lixo digital: você configura um agendador para remover arquivos temporários e afins numa interface incrivelmente simples

Agora chegamos na tela de configurações de contas online seria uma excelente ideia se já permitisse configurar ao menos uma conta direto na tela, o que essa tela faz é exibir um link para essa tela:

Que permite adicionar as contas, então apesar dessa tela ser útil ela quebra a atenção do usuário

Enfim a famigerada tela de sideload de Flatpaks (instalar de fora da loja), eu realmente não entendo o porquê fazer isso, se vai dar essa opção de forma a estar um clique, porque não ativar logo por padrão? Acaba sendo apenas uma barreira para gerar confusão na cabeça de usuários

Nessa tela é ofertada a opção do usuário configurar atualizações automáticas algo que divide opiniões por um lado salva largura de banda, por outro pode permitir que um usuário sem conhecimento técnico fique exposto a falhas de segurança

E por fim uma tela vazia informando que acabamos de configurar tudo e incentivando o usuário a configurar o sistema. Agora eu acho que é um bom momento para ilustrar o que eu disse na tela de início, olha como essa tela poderia ser muito mais convidativa a mostrar que o usuário tem mais a explorar no sistema simplesmente mudando as informações de lugar:

Nessa tela o locus de atenção é naturalmente liberado então faz sentido o usuário buscar mais informações

O final (ou a parte de baixo da tela)

A clássica dock do elementary OS não é mais o Plank, eles estão usando uma dock própria (apenas uma curiosidade, não muda muito para a finalidade do post), o problema com a dock são esses 2 itens:

Ambos alteram o fluxo do sistema e estão em lados opostos, apesar de não ser tão grave já que esse problema só ocorre no modo live, o “Visão multitarefas” é apresentado como um app (inclusive aparece no menu):

Só que ele é um recurso de sistema e não há nenhum indicativo disso, isso significa que:

  • O recurso do sistema de pressionar Meta+[n] onde n é uma posição na dock faz com que ele ocupe o lugar de 1 app quebrando o próprio fluxo de trabalho por teclado proposto
  • O usuário pode remover por acidente o recurso
  • Esse “aplicativo” teria 2 atalhos o Meta+1 e o Meta+Seta pra baixo,

Mantendo ele como algo separado traria algumas melhorias de fluxo:

  • Libera espaço para mais um app na linha de atalhos
  • Evita remoção por descuido
  • Facilita o fluxo de trabalho por teclado, sem prejudicar o acesso via mouse/toque

Quebrado de fábrica (e fim prematuro do post)

Eu até queria continuar a análise mas mesmo depois de tudo feito, o sistema estava quebrado de fábrica, os apps simplesmente não abrem:

Note que o navegador não funciona também o que é mais um motivo pro guia de início ser offline é a melhor opção… O motivo da falha é que o usuário por padrão não pode utilizar o recurso “namespace” do Linux, o usuário não podendo fazer isso não pode iniciar containers logo, todas as aplicações flatpak não funcionam, o sistema é inteiramente flatpak para apps da loja, então se percebe o tamanho do problema… Até o momento de escrita desse post não há correção

Conclusão

O sistema parece ter sido lançado bem antes da hora, tem algumas ideias bacanas mas pelo sistema não funcionar de fábrica não tem muito o que analisar além da tela de inicio

Alguns pontos de problemas na UX:

  • Code, o nome claramente confunde com o outro Code (que inclusive já existia quando o Code do elementary OS se chamava Scratchpad), “Editor de textos” funcionaria melhor, até porque o elementary OS é o único sistema operacional que eu conheço que do ponto de vista do usuário não vem com um editor de textos simples
  • Não ter uma, duas ou 3 mas sim impressionantes 6 linhas de design de interface, não sei o que aconteceu mas a mais consistente das interfaces está hoje uma das menos consistentes:

  1. Janela dividida com o conteúdo principal a direita e o auxiliar a esquerda
  2. Cabeçalho de navegação com botão de Opções explicito
  3. Cabeçalho de pesquisa
  4. Sem cabeçalho
  5. Janela dividida com o conteúdo principal a esquerda e o auxiliar a direita
  6. Cabeçalho de títulos

Então é isso, espero que tenham gostado do post, é triste ver que o elementary OS está se tornando distante do que pretendia ser mas quem sabe um dia volta

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Ótima análise!

Tinha curiosidade para saber a opinião de um UX designer sobre o Elementary OS.

Um fato curioso que testemunhei sobre a nova dock foi que se você remover todos os aplicativos dela, fica aparecendo um quadrado grande e desproporcional na tela kkk.

Antigamente na equipe do Elementary tinha o Cassidy James que era especializado em UX design, pelo que sei a especialidade da Danielle Foré é programação, apesar dela atualmente ser a responsável pelo design.

Quando se trata de consistência na interface isso é algo bem difícil de fazer em todo o sistema, até o MacOS sofre com isso mesmo depois do último grande redesign na versão chamada Big Sur.

Particularmente gosto muito da experiência utilizando o Gnome, depois que você se acostuma com o fluxo utilizando as áreas de trabalho e a pesquisa para abrir aplicativos, você acaba percebendo quanto tempo perdemos clicando na dock para abrir e minimizar aplicativos.

O Zorin OS na minha opinião entrega uma boa experiência aliada uma interface consistente na medida do possível, além disso, gosto da estabilidade do sistema.

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Outro que também gosta do Gnome. O Gnome é aquele ambiente bem esquisito, com seus tiques e particularidades, mas quando você entende como ele funciona, você consegue fluir legal nele.

Mas olhando bem, o Gnome sofre um pouco quando vai se apresentar naquele tour da primeira vez em que você entra no ambiente.

Não só isso, como o Gnome tem algumas críticas que fazem sentido, como os três menus do Nautilus, que sao aquele do lado esquerdo, o Menu hambúrguer do lado direito e aquela setinha perto do botão que troca da lista para a visão das miniaturas.

Mas embora o Gnome ainda possa ter alguns problemas de usabilidade, eu acabei me acostumando com ele.


EDIT: Vi que errei ao falar dos menus do Nautilus. A ordem seria o Menu Hambúrguer perto do Título do lado Esquerdo, aqueles três pontinhos na barra de endereços e a setinha. Tipo nessa imagem que está no artigo que linquei.

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excelente artigo. parabéns.

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A análise apresentada levanta pontos muito pertinentes sobre o elementary OS e suas escolhas de design e usabilidade. Concordo com muitas das observações feitas, especialmente em relação à falta de consistência na interface e à confusão gerada pelo nome “Code”.

Primeiramente, a questão do nome “Code” é algo que pode realmente criar confusão, especialmente para quem já está acostumado com o Visual Studio Code da Microsoft. Um nome mais descritivo, como “Editor de Textos”, seria mais intuitivo e alinhado com a proposta do sistema, que busca simplificar a experiência do usuário. Isso seria mais coerente com o público-alvo do elementary OS, que geralmente busca uma interface limpa e fácil de entender.

Quanto à inconsistência no design da interface, esse é um ponto muito importante. O elementary OS sempre foi elogiado pela sua abordagem coesa e unificada, mas, como a análise aponta, o aumento das variações de layout e cabeçalhos de navegação faz o sistema parecer menos polido. Quando um sistema busca simplificação, qualquer quebra de consistência pode acabar prejudicando a experiência do usuário, tornando a navegação mais confusa e menos fluida.

A falta de um editor de textos simples também é uma crítica válida. Embora o “Code” tenha suas qualidades, muitos usuários buscam algo mais básico e funcional para tarefas rápidas. Essa lacuna pode ser frustrante para quem espera um sistema mais direto, especialmente considerando que a proposta do elementary é ser simples e eficiente para quem não quer se perder em configurações e ferramentas complicadas.

Em suma, a análise reflete uma preocupação legítima com a evolução do elementary OS. O sistema sempre teve uma identidade forte baseada na simplicidade e elegância, mas, se não houver atenção para esses detalhes de usabilidade e consistência, ele pode se afastar do que o tornou atraente para muitos usuários.

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Em meus testes, os aplicativos listados não funcionaram em modo live, mas com o sistema instalado em máquina virtual, todos funcionaram.

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Eu instalei, atualizei e ainda sim não abriu, eu até pensei em resolver mas fugiria do escopo, algo que eu achei curioso é que no post do Diolinux diz que o Flathub veio por padrão enquanto na ISO que eu baixei ontem pra testar não vinha, será que subiram o arquivo errado e eu dei azar? kkkkkk

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Não fiz nenhuma configuração adicional. Na imagem, Google Chrome do Flathub, mais três aplicativos citados, tudo rodando em VM

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