A matriz elétrica brasileira é renovável e limpa?

As hidrelétricas causam alagamentos e retiram os habitats dos animais que vivem nas áreas onde as hidreléticas são instaladas. Você deve saber que a perda do habitat natural é um dos fatores que levam à extinção de espécies.

Enfim, o @KairanD já lhe explicou os impactos das hidrelétricas e lhe indicou materiais para você ler à respeito. Sinto muito se você quer relativizar os danos à natureza.

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Então pó, alargamento sempre teve em rios, na televisão mesmo se ver noticia direto de inundação de rio em cidades, alargamento é uma coisa natural em rios a natureza consegue lidar com eles, sempre foi assim. Se a hidrelétrica sair de lá vai continuar os alargamento, rios alargam.
E ainda bem que alargam se não alargassem quer dizer que não esta chovendo.

Ao analisar usinas hidrelétricas, estamos falando de muitos km² de área inundada, e não de um mero “alargamento”. No caso do reservatório de Itaipu, por exemplo, são 1.350 km².

Se você tivesse lido os artigos científicos que indiquei, teria visto que as usinas hidrelétricas podem até mesmo poluir mais que as termelétricas devido à decomposição de matéria orgânica e emissões das turbinas.

Junk e Melo (1990) indicaram que os 2.430 km² inundados pela represa de Tucuruí, por exemplo, soterraram 36.450.000 toneladas de matéria orgânica vegetal, cuja decomposição e liberação de gases ao longo do tempo equivale a queimar 45.600.000 toneladas de diesel. Levaria 37 anos para a hidrelétrica ter saldo positivo (passar a poluir menos que uma termelétrica). No caso da represa de Balbina, esse valor sobe para 107 anos (faz até algumas destrutivas usinas de carvão estadunidenses parecerem ecologicamente corretas).

O estudo de Queiroz e Motta-Veiga (2012) indicou que a usina de Tucuruí inundou muito mais que a área planejada. O desmatamento que deveria ser realizado não foi feito adequadamente e por isso há tanto impacto em termos de gases de efeito estufa. Impactos socioambientais também foram pouco considerados e a economia de todas as vilas que existiam à jusante foi destruída, aumentando índices de pobreza e causando exôdo rural suficiente para chamar a atenção do governo federal com relação à desocupação do Pará na época.

A Usina de Belo Monte, segundo Santos e Hernandez (2009), é outro exemplo clássico. A área de alagamento foi delineada de forma imprecisa e, novamente, houve um desastre para as populações locais, que tiveram seus direitos violados (muitas delas lutam até hoje na justiça por indenizações). A instalação da represa - que teve viabilidade técnica e econômica questionáveis - resultou no desequilíbrio hidrológico da região, com danos graves à biodiversidade. Quanto ao efeito estufa, levaria 41 anos para Belo Monte ter saldo positivo (passar a poluir menos que uma termelétrica).

Você condena muito as usinas que queimam carvão e petróleo (e condena com razão), mas…

“Pelo menos para a época dos inventários nacionais sob a Convenção de Clima (1990), todas as grandes hidrelétricas na Amazônia brasileira (Tucuruí, Samuel, Curuá-Una e Balbina) tinham emissões bem maiores do que a geração da mesma energia com termelétricas” (FEARNSIDE, 1995, 2002, 2005a,b, apud SANTOS e HERNANDEZ, 2009, p.110).

Você comentou sobre Brumadinho, que foi um crime terrível e com impactos que vão durar muito tempo. Mas se pegar essas hidrelétricas e considerar todos os impactos que provocaram, tanto para o meio ambiente quanto para dezenas (ou centenas) de milhares de pessoas e suas culturas, verá que os problemas não são triviais.

Problemas ocorrem no exterior também. Queiroz e Motta-Veiga (2012) indicaram que a usina hidrelétrica James Bay, no Canadá, inundou 11.000 km² de área (uma insanidade), sem realizar um estudo de impactos ambientais e considerar os povos que ali viviam. Como resultado, 11.950 índios foram removidos à força de suas terras e, diante da desagregação social, 75% deles não conseguiram exercer mais atividades de subsistência e os índices de doenças e suicídios dispararam. A região não era propícia para uma hidrelétrica (por isso precisou inundar uma área tão gigantesca) e o caso foi considerado praticamente um genocídio.

Há mais considerações que eu não havia descrito. Vale destacar que os peixes, por exemplo, são gravemente impactados e podem ser impedidos de se reproduzir durante a época da piracema (não conseguem escalar e passar pela represa, embora existam formas de mitigar isso). Além da perda de espécies, a pesca fica comprometida.

É claro que o impacto é variável e depende do nível de responsabilidade e análise ambiental ao construir cada instalação. Nem todas as hidrelétricas têm impactos tão grandes como as que mencionei, mas todas causam algum impacto (e é importante destacar isso). O Brasil tem muitas vantagens do ponto de vista energético, mas também tem muitos exemplos de como fazer tudo da forma errada (é possível mitigar - embora não eliminar - os impactos das hidrelétricas quando construídas e operadas corretamente).

Enfim, a literatura científica aborda bastante os impactos decorrentes de instalações hidrelétricas e é consenso científico que eles são relevantes e devem ser considerados. Isso não quer dizer que não devemos construir esse tipo de instalação, mas sim que isso deve ser feito com responsabilidade e ciência de que não é uma energia “limpa e infinita” como a mídia e o lobby em torno disso costumam pregar. :wink:

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Gente eu paro por aqui, qual resposta eu devo marcar como solução?

Realmente, a questão ambiental é complicada, será que a energia solar seria a melhor opção? Não sei se a produção das placas demanda muito energia, eu imagino que deve haver um impacto tremendo desde a extração, transporte, fundição e fabricação.

Eu estava lendo que a fabricação usa matérias que precisa ser extraído em mineração.
Mas a energia solar ela tem problema que eu falei em cima, a energia gerada por ela se não estocada em baterias ela precisa ser usada de imediato ou ela causa o problema de 2023, e como ela produz muita energia de dia e pouca a noite esta montado o cenário catastrófico. E as baterias se usadas para armazenar são prejudiciais se jogadas no meio ambiente.

Mas acho que a ideia é encontrar uma matriz realmente renovável, hidroelétricas também tem vários problemas como a tonelada de coisas que o @KairanD apontou só indicando estudos. Eu confesso que não sabia que podia ser uma fonte mais de dezenas de vezes mais poluente que todos os outros métodos que não queimam combustível.

Se é para poluir menos, acho que esse objetivo precisa ser grifado, até porque eu acho que estamos chegando perto do limite no que tange as melhores regiões para esse tipo de fonte energética no Brasil, provavelmente daqui para frente as áreas possíveis para hidro elétrica vão gerar menos energia e ter impactos ainda maiores.

Talvez a resposta seja realmente diversificar, acho que já fizemos hidroelétricas de mais, quase que só resta a bacia amazônica para explorar, e lá é o último lugar que acho inteligente explorar.

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O problema é que isso não é necessariamente verdade, energia renovável significa apenas que ela não é escassa, mesmo energia renovável pode (e geralmente vai) causar danos extremos ao meio ambiente, energia renovável e energia limpa são coisas diferentes, como o @KairanD mostrou, 61,9% da nossa energia vem das usinas hidrelétricas, hidrelétricas destroem ecossistemas inteiros para serem construídas, a matéria orgânica desses ecossistemas ficam por décadas sendo liberadas na atmosfera, isso sem contar que afetam o efeito “rio-voador” ao concentrar água alterando o clima da América do Sul inteira, precisamos investir em energia nuclear reciclável ou extrair He3 da Lua e termos a tão sonhada fusão a frio até lá só vamos estar trocando energia que acaba por energia que não acaba sem dar 1 passo em direção a energia limpa

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@Natanael.755 eu tmb sou a favor da energia nuclear, e é a melhor. mesmo de fissão o lixo é muito pequeno ao tanto de energia que produz, 1 palito de 100 gramas produz energia por 1 ano. Isso pode ser guardado na própria usina.

Eu também acho uma boa ideia, até porque o Brasil é um local bem estável (sem terremotos, etc), e acho que diferente da Europa, ainda não tem aquele estigma fortíssimo contra.

Acho que o único defeito da energia nuclear é o custo. Se não me engano a ANEEL define uma tarifa por MWh bem mais alta para as usinas Angra 1 e 2 se comparada a tarifa de Itaipu.

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Energia Nuclear será talvez a única fonte de energia limpa com grande capacidade de produção ideal se as pessoas de fato quiserem levar a sério a ideia do “carbono zero” ( idéia que por enquanto só esta servindo para governos cobrarem mais tributos e deixar tudo mais caro vide Europa ). Governo deveria investir ou incentivar a produção de energia Nuclear aqui, não vejo o pais tento espaço para mais hidrelétricas devido a quantidade necessários para o reservatórios e demais questões es ambientais e parar de investir na energia Eólica que é uma completa piada, além de cara e ineficiente mata muitos pássaros e insetos, afugente animais na região devido ao ruido e áahh é claro o ruido infernal dia e noite.

Uma hidrelétrica pode ser mais poluente até que os métodos que queimam combustível. Inclusive, diversas hidrelétricas brasileiras, que foram construídas de forma irresponsável, infelizmente se encaixam nesse contexto (conforme os cálculos nos artigos que citei). A forma com que a hidrelétrica é construída afeta enormemente o tamanho dos impactos.

E é como você disse: quanto mais exploramos, menos áreas interessantes sobram. É necessário ter uma coluna d’água bem profunda para que a área inundada seja reduzida. Uma alternativa de menor impacto que tem aparecido são as pequenas centrais hidrelétricas (PCHs).

A energia eólica também tende a se desenvolver bastante no Brasil. Ela tem se mostrado mais interessante que a solar. Inclusive, o Brasil tem um desenvolvimento bem avançado nessa área.

Sobre qual seria o caminho ideal, é difícil dizer… Acho que a questão da diversificação que você mencionou é importante.

A própria energia nuclear, que foi mencionada, é bem interessante. É claro que, como toda fonte de energia, há problemas: entram preocupações como o risco (que deve ser bem controlado), atritos políticos e por aí vai… Mas é algo que merece mais pesquisas e desenvolvimento. Não é à toa que pessoas como o Bill Gates investem tanto nisso. O potencial é gigantesco.

A forma com que as escolas e a mídia abordam essas questões afeta muito a opinião popular a respeito disso. As grandes hidrelétricas brasileiras muitas vezes são mostradas como soluções perfeitas, sendo que estão longe disso. Enquanto isso, a energia nuclear é muitas vezes tratada como “vilã terrível” e algo que deve ser eliminado.

Essa questão midiática também causa outros impactos. Os carros elétricos, por exemplo, têm sido mostrados como uma solução “maravilhosa” e “carbono zero” para os problemas do mundo, mas já existem diversos estudos indicando que podem causar impactos inclusive bem maiores que os de veículos à combustão. Para refletir: Veículos elétricos: conduzindo sofrimento e poluição | Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais

E, se for pensar nisso, entra outra discussão… A do etanol. Também é comum vermos propagandas sobre como o etanol é “limpo”. Muitas pessoas não sabem que a indústria do etanol gera uma quantidade absurda de vinhoto, um resíduo aquoso de difícil tratamento que acaba jogado indiscriminadamente em corpos hídricos. Há também a questão dos acidentes nas zonas rurais e, inclusive, de trabalho escravo para o corte da cana (sim, isso existe em 2023).

A questão energética é muito complexa, profunda e difícil de quantificar. Ela entra em campos econômicos, ambientais, sociais, políticos, midiáticos…

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