Tenho acompanhado o questionamento inicial e as 48 postagens até agora – mas hesitei muito em participar, por vários motivos. – Em resumo, há muito tempo me coloquei “fora da competição insana” à qual somos levados, mesmo contra nossas vontades.
O início (ou o agravamento) dessa “competição insana” tem data – que varia de um país para outro. – Muito antes de chegar até nós, no Brasil, lembro de ter visto algumas reportagens de TV sobre alunos japoneses que se suicidavam (quando isso ainda soava estranho, entre nós).
Não tenho muita certeza – mas acho que alguns morriam imprensados pelo fechamento automático e inexorável dos portões das escolas – por tentarem entrar, quando não não era permitido.
Me parece que vi alguma coisa assim por volta de +/-1986 – daí, minha dúvida em afirmar com alguma certeza. – Está longe demais, na minha memória. (“Não era comigo” – a “desculpa” mais comum, para ignorarmos problemas humanos, quando não nos afetam diretamente).
Por motivos assim, não consigo atribuir essa questão à internet (que mal engatinhava nos EUA), muito menos às “redes sociais”, que só apareceram muitos anos depois.
Sim, por volta de 1960, atribuíam-se muitas culpas às “histórias em quadrinhos” (gibis, para os íntimos) – e fui ameaçado com várias proibições, limitações, sanções etc. – e alguns anos mais tardes, “a TV” assumiu a carranca do “mal”.
Acontece que havia “uma espécie de guerra” no mundo. – Hoje, sei que é muito mais antiga. – Aliás, cada um de nós pode imaginar uma data diferente, para o “início” dessa “espécie de guerra”. O final da II Guerra Mundial, em 1945? O “Crash de 1929”? Qualquer outra data, entre 1500 e 1800? – Sintam-se à vontade, para escolher qualquer data.
É muito raro, recebermos qualquer informação sobre o “New Deal”, que não sejam as informações “aprovadas”. – Sobre os EUA, gosto de ler autores norte-americanos (de todas as épocas) – e percebo que os anos imediatamente após o Crash de 1929 foram uma “quase guerra civil”.
Em resumo, o New Deal foi recebido pelos conservadores, como o diabo em pessoa! – Quase uma “ditadura comunista” – mas a revolta popular era tão “perigosa”, naquele momento, que o establishment não viu como deixar de aceitá-lo (e de historiar como algo positivo).
Terminada a II Guerra Mundial (1945), o próprio establishment teve de propor e implantar o assim chamado “Wellfare State” (o Estado do Bem-Estar Social) – verdadeiro anátema! – para impedir que “as massas” pudessem ser seduzidas pelo fantasma do “comunismo”.
Os EUA investiram zilhões na “reconstrução” da Europa (capitalista) – o Plano Marshall – e corromperam Deus e o mundo, para impedir que partidos “socialistas” ou “comunistas” chegassem ao poder no Japão, na França, na Itália, e sabe-se lá onde mais.
Foi nesse Wellfare State (o Estado do Bem-Estar Social) que nasci, me criei, cresci, me tornei adulto, e assumi meus primeiros empregos. – Minha “família” insistia muito para que eu “prestasse concurso” e “garantisse” o meu “futuro” com algum emprego no Banco do Brasil, no Congresso etc. – Não precisava! Qualquer emprego na iniciativa privada oferecia “perspectiva de futuro”. – Se você fosse um funcionário “sério” etc., você “subiria” na empresa e, no final da vida, teria uma aposentadoria à altura dos degraus conquistados.
Não era mentira! – Eu vi. – Era assim mesmo (com as exceções de sempre).
Feliz ou infelizmente, eu não me engajei nessa “expectativa” – nunca quis me “acomodar” (pois era isso que o Estado do Bem-Estar Social propunha) – e isso me poupou de muitas decepções, no período que se seguiu.
Na faixa de 1987 a 1991, o “bloco comunista” já dava sinais de fraqueza – e Thatcher e Reagan já davam amostras grátis de que, sem medo da “sedução comunista sobre as massas”, o capitalismo não precisava mais ter a menor preocupação com o “bem-estar social” do populacho ocidental.
Nessa época (e por mais alguns anos), eu tentava seriamente levar à frente um “negócio pessoal” (ou algo assim) – por isso, lia com atenção todas as “ideologias” alardeadas para os bravos empreendedores: – Downsizing, Just-in-time etc., além das dicas menores do Sebrae, associações comerciais locais etc.
Levei tudo aquilo a sério, sem a menor dúvida – até me render por completo à percepção de que nada daquilo me levava a nada, em 1996. – Aí, me dediquei à minha vida pessoal (uma possibilidade fácil à classe média, que 99% da população não tinha).
Deixar de querer ser “empreendedor”, e voltar à vida de “empregado” – mal pago, mas com tempo livre para ler e pensar, após bater o ponto no final da tarde – me permitiu examinar as coisas, sem me considerar “dentro” daquele (suposto) maravilhoso momento.
Ali, começaram a ser destruídas todas as “perspectivas” de “estabilidade”, “aposentadoria” etc. – seja na iniciativa privada, seja em empresas estatais. – Para os 100+ mil funcionários do Banco do Brasil, por exemplo, foi um tapa de perder o rumo. As cifras de suicídio foram uma coisa terrível (e eu lembrava bem, de como vários parentes e amigos se sentiam “garantidos”, até ali).
Na iniciativa privada, vi vários amigos serem demitidos – após se dedicarem às suas empresas durante anos, décadas, na expectativa de continuarem subindo e, um dia, se aposentarem.
Uma turma de TIs (ainda não havia essa denominação) do BB aproveitou a indenização do Programa de Desligamento Voluntário (PDV) para criar a Conectiva Linux – que alcançou relativo sucesso – mas finalmente perceberam que era melhor vender à Mandrake (origem do Mandriva), antes de darem com os burros n’água.
Outros amigos, despejados sumariamente da iniciativa privada – onde tinham investido suas vidas, na expectativa de crescimento e por fim a segurança da aposentadoria – tentaram, cada um, um projeto qualquer.
Mas foram exceções à regra. – A maioria jamais tinha planejado nada. – Aquele momento em que “o chão sumiu debaixo dos pés” jamais tinha sido previsto, nem sequer, imaginado.
Como jamais quis “seguir carreira” – nem na “estatal”, nem na “privada” – aqueles altos e baixos não me afetaram psicologicamente. – Fali, aceitei um emprego (mal pago) para respirar e descansar alguns anos… e me adaptei aos novos tempos, com certa facilidade, pois nunca me havia “acomodado” a nenhum esquema rígido de expectativas de futuro.
E foi nesse intervalo, mal-pago porém com algum tempo livre, que comecei a ler coisas que nunca tinha lido, e fui formando um “quadro” do que havia acontecido – no mundo inteiro (e, com algum atraso, no Brasil).
De 1996 até 2022, as coisas só se aceleraram – e nem vale a pena entrar em detalhes. – O essencial, está no que disse até aqui. O resto, é só “sequência”.
Para os da minha geração, que levaram um baque medonho entre o final dos anos 1980 e o início dos anos 1990, o pior já foi enfrentado. – Ou sobreviveram, ou acabaram se acomodando a uma “sub-vida”, ou…
Para os amigos aqui do Fórum Diolinux, que entraram na vida adulta e profissional em anos mais recentes, as coisas podem parecer um tanto confusas. – Receberam outra “formação”, outras “ideologias de vida” – e mesmo assim (percebo por esse tópico), não está sendo mais fácil, nem tampouco “confortável”.
Dou só 1 exemplo: – Nos últimos 20 anos, procurei organizar um “suporte de vida”, composto de “frutos do meu trabalho” (autônomo) + aposentadoria (também fruto do meu trabalho, mas de modo mais demorado) + rendimentos do que pude guardar, ao longo desse tempo.
Nos últimos 15 anos, o fruto do meu trabalho (atual, atividade, tendente a gerar ou manter empregos) foi aumentando, até certo ponto (enquanto o rendimento da poupança permanecia pífio). – Nos últimos anos, e em especial nos tempos mais recentes, decaiu muito – enquanto o rendimento da poupança (sem aumento da base) cresceu sem nenhuma razão ou mérito.
Conclusão: – Nos últimos anos, se tornou mais proveitoso viver de “juros”, do que de qualquer trabalho capaz de gerar ou manter empregos.
Quem tem zilhões em “aplicações” deve estar sorrindo de orelha a orelha – mas quem tenta fazer alguma coisa “útil” deve estar se sentindo muito mal.
Quanto à aposentadoria – que paguei durante décadas – não aumenta, mas também não decaiu (por enquanto!). – Portanto, só posso aconselhar que os colegas evitem colocar “todos os ovos numa cesta só”.
Poupem (por mais difícil que seja: fujam do apelo para gastar o que conseguem ganhar) – invistam em algum trabalho útil (pois a “política econômica” muda, a cada tantos anos) – e nunca desprezem a contribuição ao INSS (que até pode “ser falido”, mas isso ainda não conseguiram fazer, nas últimas 6 décadas).
Mas, acima de tudo, fujam da “necessidade de consumo”. – Mais de 2/3 daquilo que parece “uma necessidade”, na verdade não passa de uma isca – e o peixe morre pela boca.
Vi muitos colegas, no auge da “monetização”, acharem que aqueles ganhos eram “garantidos”, e que só iriam “aumentar” (jamais, diminuir). – Felizmente, eu já tinha vivido vários ciclos econômicos, e várias “políticas econômicas”, e sabia que nada é garantido, nada é “estável” (muito menos, um “crescimento” momentâneo).
Neste momento, ou o atual ciclo se mantém e se agrava – ou se inverte – e tenho certa expectativa de que, ou me mantenho por um lado, ou pelo outro.
Porque só existem 2 alternativas: – Ou ganham os rentistas – ou ganham os que “produzem” alguma coisa (aí incluído os que prestam serviços e, de algum modo, geram ou ajudam a manter empregos).
Do mal-estar causado pela competição cada vez mais estressante, não posso falar – pois já fiz minha parte; agora estou fora. – Mas recomendo que não atribuam isso às “redes sociais”, nem “à TV”, e muito menos aos gibis de histórias em quadrinhos.
Os operários que se voltaram contra as “máquinas” – e tentaram destruí-las, no século XVII – estavam apenas mirando o alvo errado.