Na minha experiência, eu vejo alguns grandes problemas dentro do linux para desktop (vou falar linux para simplificar, mas tenham linux nesse texto como sendo “distribuição linux voltada para desktops”).
O primeiro ponto que vejo é em relação à filosofia open source. Mesmo não sendo 100% relacionado com o linux em si, já que existem softwares proprietários além dos open source nesta plataforma.
A ideia por trás dessa filosofia é ótima e funciona muito bem no desenvolvimento e debug de muitos softwares, desde que esses tenham um público cativo e muito empenhado. Programas de nicho (onde as pessoas que participam desse nicho não desenvolvem o software, apenas desejam utiliza-lo) normalmente carecem de recursos, possuem interface não intuitiva e muitas vezes são incompletos.
Posso citar exemplos deste efeito em softwares de simulação SPICE, por exemplo. Onde o usuário não tem interesse em adquirir conhecimento extra para desenvolver os programas mas depende desses para trabalhar. Sendo assim temos como representante open source, o QUCS, contra opções proprietárias como Multisim, OrCAD, Proteus, etc.
O mesmo efeito podemos observar dentro do ecossistema do python (que eu adoro utilizar). Pacotes muito utilizados e comuns como numpy, matplotlib, pandas (dentre muitos outros) muito utilizados são extremamente avançados e bem desenvolvidos. Agora, alguém já tentou utilizar os pacotes de aritmética intervalar (pyinterval, por exemplo) ? É uma desgraça, com desenvolvimento travado a anos, faltando funções e com algumas bugadas. Enquanto isso, a solução proprietária do Matlab (IntLab) é extremamente desenvolvida. Inclusive, se alguém já trabalhou com aritmética intervalar no python e conhece algum pacote melhor que o pyinterval, por favor, se me disser qual pacote utilizou, me ajudaria muito!
Ok, mas onde isso se liga ao linux do desktop ? Sossega aí que eu já chego nisso, deixa eu apresentar os pontos todos antes de ligá-los!
O segundo ponto complicado no linux é que os desenvolvedores das DEs até fazem um bom trabalho, mas a usabilidade atual do sistema e capacidade de adaptação à novos públicos (ou seja, as configurações default das DEs) são comparáveis à época do windows XP.
O que é quero dizer com isso ? Faz pouco tempo que distros famosas, como ubuntu, adotaram uma solução viável de painel de controle. Não que essa solução não existisse antes, mas ela era sempre muito limitada ou muito perigosa (atire a primeira pedra quem nunca reinstalou uma distro quando era novato porque sumiu com elementos fundamentais da interface). Faz pouco tempo que outras distros/DEs (não sei até que ponto essas implementações são das distros ou dos desenvolvedores das DEs, por isso estou colocando ambos no mesmo balaio) adotaram uma solução próxima ao YAST do openSUSE.
Contudo, esses painéis de controle (mesmo que não seja na forma de painel de controle do windows, tanto faz, desde que seja uma interface gráfica que possibilite em um único local configurar a maior parte das características da distro), ainda carecem de intuitividade.
Vou dar um exemplo que eu reparei enquanto configurava meu xubuntu: Fui configurar as teclas de atalho que eu já tenho como memória mecânica e que são diferentes, vou citar isso daqui a pouco, no xfce (Super+E, Super+R, Super+D, Super+LArrow, Super+RArrow, Super+UpArrow, Super+DownArrow, Ctrl+Shit+Esc) e deparei com as configurações de tecla de atalho referentes à execução de scripts ou programas (abrir o system monitor, abrir o menu de execução de programa, etc) em um menu de configuração e as teclas de atalho referentes à gerenciamento de janelas (maximizar, minimizar, ampliar, reduzir) em outro menu. Agora eu pergunto “PRA QUE DIABOS SEPARAR AS CONFIGURAÇÕES DE HOTKEY EM DOIS MENUS DE CONFIGURAÇÃO?”. Ou seja, mesmo que essa seja uma opção não existente no windows, ela foi MUITO dificultada porque você tem que saber onde procurar cada hotkey e, elas podem conflitar sem que você seja avisado disso!
Agora, o terceiro ponto, o público alvo. Se a distro pretende ser uma alternativa ao windows, se ela pretende que pessoas migrem do windows para ela, não adianta ser disruptiva! O windows domina o mercado de desktop, se você quer uma parte do público dele, não mude o workflow! Teclas de atalho devem ser iguais (pois isso vem de memória mecânica de anos de uso), aparência deve ser muito parecida (linux Mint “merece um beijo” neste aspecto). O mesmo vale se o foco é o usuário de Mac (mesmo sendo mais raro).
E agora, finalmente, vou falar da linha que junta todos os pontos que citei anteriormente: O Marketing
Enquanto não aparecer uma empresa que aposte pesado nesse marketing, criando acordos com fabricantes de notebook (mesmo que sejam os notes de menor potência) e distribuindo o linux de forma OEM, as grandes produtoras de software raramente se darão ao luxo de portar seus softwares para linux visto que seu público será restrito e, dar suporte para um OS diferente envolve toda uma cadeia de suporte, desenvolvimento, debug e atendimento que custam dinheiro! Assim, o linux acaba fadado majoritariamente aos softwares open source, ou seja, qualquer pessoa que possua necessidade de software proprietário será forçada a usar windows, mesmo que queira usar o linux! E não fale de wine porque nenhuma empresa séria daria suporte e garantia de um software rodando no wine, já que eles estariam atrelando a estabilidade do software deles em cima de um software de terceiros, além do sistema operacional, o que gera um absurdo risco legal.
Até o momento, todos que usam linux devem agradecer e MUITO à canonical, mesmo que não use o Ubuntu porque ela foi uma das maiores responsáveis pelo pouco marketing que o linux teve. Outra empresa que ativamente ajuda o linux a se manter no mercado é a Steam, que, graças à ela, existe já uma boa (mas bem limitada ainda) biblioteca de jogos para o linux, o que tira a necessidade de muitos de ter o famigerado dual boot.