A Python Software Foundation (PSF), organização responsável por promover e proteger a linguagem de programação Python, decidiu retirar sua proposta de financiamento de US$ 1,5 milhão enviada à National Science Foundation (NSF), uma agência do governo dos Estados Unidos.
O pedido de financiamento havia sido submetido em janeiro de 2025, dentro do programa da NSF voltado à segurança e privacidade de ecossistemas de código aberto. O objetivo era desenvolver ferramentas e estratégias para corrigir vulnerabilidades estruturais no Python e no PyPI, o repositório oficial de pacotes da linguagem.
O projeto prometia grandes benefícios para a comunidade, especialmente ao melhorar a segurança contra ataques na cadeia de suprimentos de software. A proposta, liderada por Seth Larson, desenvolvedor de segurança residente da PSF, e Loren Crary, diretora executiva adjunta, foi aprovada após um rigoroso processo de seleção.
Isso representava uma conquista importante, especialmente para uma organização sem fins lucrativos relativamente pequena, que opera com um orçamento anual em torno de US$ 5 milhões e conta com apenas 14 funcionários.
Entretanto, o entusiasmo durou pouco. Ao receber os termos do contrato, a PSF se deparou com uma exigência polêmica: os beneficiários deveriam declarar que “não operam, e não operarão durante a vigência do financiamento, nenhum programa que promova ou apoie diversidade, equidade e inclusão, ou qualquer ideologia de equidade discriminatória em violação às leis federais de antidiscriminação”.
Essa condição não se aplicaria apenas ao projeto financiado, mas a todas as atividades da fundação, com o risco de o governo exigir o reembolso de valores já gastos caso julgasse haver descumprimento.
Para a PSF, aceitar tal cláusula significaria trair sua própria missão institucional, que é “promover, proteger e avançar a linguagem de programação Python, e apoiar o crescimento de uma comunidade diversa e internacional de programadores”. Após consultar contatos dentro da NSF e analisar casos semelhantes, a fundação concluiu que não poderia assinar o contrato sem comprometer seus princípios.
Ela declarou oficialmente que “não pode concordar com uma declaração que a proíba de operar programas que promovam diversidade, equidade e inclusão, pois isso seria uma traição à sua missão e à sua comunidade”. Diante disso, o conselho da fundação votou de forma unânime pela retirada da proposta, optando pela integridade ética em vez dos benefícios financeiros e operacionais que o subsídio traria.
A PSF reconheceu que a perda do financiamento impactará suas finanças, especialmente em um contexto de inflação, queda de patrocínios e incerteza econômica no setor tecnológico. Ainda assim, reafirmou que seu compromisso com a inclusão e a diversidade é inegociável.
A fundação também aproveitou o momento para pedir o apoio da comunidade, incentivando doações, adesão de novos membros e patrocínios corporativos — reforçando que a continuidade de seu trabalho depende da colaboração daqueles que acreditam nos valores que tornam o ecossistema Python aberto, seguro e acolhedor para todos.