Linux funciona para pessoas comuns? Vamos tentar o método científico

Introdução

Muito se discute se o Linux é ou não capaz de funcionar para um usuário básico, porém eu notei um ponto falho nessas discussões, elas são colocados sob a perspectiva do usuário médio, e qual o problema? A distribuição de Paretto, vamos ranquear o conhecimento sobre como usar um computador (independente de sistema operacional) de 0 a 100, se tratarmos a discussão partindo da ideia de um usuário médio ele teria uma nota de 50, já se aplicarmos Paretto para modelar a discussão, mais de 80% vai ter um conhecimento sobre computadores menor que 49 sendo então a nota média vai ser de 20 a 24 (desconsideramos o decimal nesse caso), então dessa ótica já podemos por exemplo descartar que um usuário realmente médio (nesse caso a média da moda aritmética) vai entrar nessas discussões, é provável que ele sequer saiba que fóruns como esse existam então a única forma de saber se Linux funciona é justamente ir a campo e testar

Desenvolvimento

A configuração da pesquisa (n amostral), são 30 pessoas divididas em 3 grupos, cada grupo foi definido randomicamente por sorteio usando o random.org, o meio mais aleatório possível, cada grupo irá usar a distribuição Linux Ubuntu com ambiente KDE Plasma, motivos explicados na sessão Notas do Autor, cada grupo possui 10 pessoas divididos em funções:

Grupo Função
1 Coletar dificuldades, falhas e sugestões de melhorias
2 Testar correções e melhorias além de relatar eventuais falhas e mais melhorias
3 Testar a versão remasterizada do sistema

Nenhum dos 3 grupos recebeu a informação que seria uma distribuição Linux, cada grupo teve um total de 3 semanas de testes antes de optar pelo Windows ou manter o Kubuntu, ao fim a opção de voltar para o Windows ou continuar com o sistema em sua versão remasterizada, sendo assim, o grupo 1 ficou com o sistema em seu estado inicial por uma semana enviando dados e as outras duas com os estágios 2 e 3, sem enviar dados, o segundo ficou uma semana com seu estágio 2 enviando dados e duas no estágio 3 sem enviar e o 3 grupo 1 semana enviando dados e 2 sem enviar

O grupo foi heterogêneo composto por pessoas de diferentes profissões:

Quantidade Profissão
10 Profissionais da saúde de nível superior, médicos e enfermeiros
5 Recepcionistas de 4 setores diferentes não relacionados a saúde
5 Secretárias em geral também não relacionados a saúde
10 Doméstico e trabalhadores autônomos com delivery

Todos a exceção dos trabalhadores autônomos e secretárias o teste foi realizado em computadores pessoais e com login automático habilitado

Resultados do grupo 1

O grupo 1 como esperado foi o que mais relatou problemas com a seguinte distribuição:

  • 10/10 relatou incômodo com keyring, o sistema pede senha para abrir chaveiros, conectar ao Wi-Fi e similares
  • 9/10 relatou falhas fantasma, o sistema funcionava normalmente ao mesmo tempo que reportava que ocorreu falhas
  • 7/10 relatou dificuldade em “instalar” programas, nomeadamente CapCut, Whatsapp, Canva, Notion e Google Chrome
  • 5/10 relatou dificuldades com a interface que parecia confusa

Resultado grupo 2

Trazendo os 5 apps pré “instalados”, removendo o Apport, desabilitando o kwallet e modificando a interface de algumas aplicações e do próprio Plasma Shell (ver sessão notas do autor) as reclamações anteriores foram a zero, no entanto ainda houveram sugestões:

  • Centralizar os elementos da barra com o menu no canto inferior esquerdo

E como nesse grupo apareceram as primeiras pessoas que lidam com impressoras, a primeira e única reclamação relacionada a ela

  • Não conseguir fazer a impressora funcionar 3/10

Essas impressoras eram uma da Kyocera e outra da Canon necessitando intervenção manual, no caso da Canon foi possível utilizar o protocolo IPP digitando ipp:// conforme sugerido pelo fabricante, no caso da Kyocera não foi possível utilizar o scanner

Resultado grupo 3

Configurando as impressoras (majoritariamente HP e Canon) e os itens anteriores não houve mais reclamações exceto por 3 pessoas que sugeriram a barra no formato clássico do Windows

Observações gerais

Dos 30 participantes 20, ou 66% acharam o sistema extremamente fluido e sem travamentos do outro sistema

Conclusão

Fora o que será detalhado na última sessão pode se dizer que sim, com ressalvas, o Linux funciona para pessoas comuns, 25 das 30 pessoas optaram por continuar com Kubuntu ao término do experimento sendo que das 5, uma era a pessoa que tinha a impressora Kyocera relatando que usaria se a impressora funcionasse, porém esse resultado foi obtido por causa de vários fatores que muitas vezes são ignorados:

  • Maior cuidado com UX
  • Adicionando suporte a aplicações não nativas (Web apps) que os usuários não sabem que rodam no Linux
  • Alguém ter proposto a mudança

Ou seja, quantitativamente o Linux tem tudo para suprir as necessidades do usuários, o problema reside no qualitativo, o padrão IPP permite que 98% das impressoras funcione no Linux totalmente, os 2% restantes vai ter problemas mais avançados mas também teriam no Mac por exemplo ou mesmo no Windows, um daemon para detectar impressoras IPP poderia ser interessante por exemplo (embora eu não tenha pesquisado se dá pra fazer um), outra sugestão talvez fosse uma central unificada de WebApps por vezes o usuário pode sentir que algo não tem pra Linux quando na verdade tem, essas são as minhas conclusões sobre o assunto, mais pessoas poderiam replicar o experimento para termos um n amostral cada vez maior

Notas do Autor

Os 30 participantes: nenhum deles tinha conhecimento prévio sobre Linux, 30 foi um número escolhido por ser divisível por 3, eu consegui 32 pessoas porém 1 delas já tinha experimentado o Ubuntu Unity em 2016 isso poderia enviesar e 32 não é divisível por 3

Escolha pelo Kubuntu: O Kubuntu foi escolhido primeiro pela popularidade do Ubuntu sendo por tanto o provável primeiro contato e a interface KDE Plasma devido a alguns hardwares exóticos como notebooks Positivo e CCE onde outras interfaces já tiveram problemas com a renderização, áudio e Wi-Fi

Modificações no Plasma:

  • Desativação dos plugins do Kate (editor de textos)
  • Alterações no nome e localização de aplicativos nativos no menu (pacote a ser publicado)
  • Uso do tema Windows11-White Aurorae Theme
  • Todos os aplicativos foram instalados suas respectivas versões web através do navegador Google Chrome
  • Travar os painéis com lock corona:
qdbus org.kde.plasmashell /PlasmaShell evaluateScript 'lockCorona(true)'
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Gosto de pensar que o tal “pessoas comuns” seja alguém do nível “não tenho a mínima ideia de como formatar um pendrive”. Nesse sentido é uma pessoa q vai ligar o computador, abrir um software x (navegador por exemplo) realizar uma tarefa extremamente simples (pesquisa por exemplo) e fim. Nesse contexto qual sistema (Windows ou Linux) seria mais facilmente esculhambado, ou com maior probabilidade de dar problemas no momento do tal “pessoa comum” estar realizando uma atividade simples? Não preciso forçar muito meu cérebro para chegar na resposta que é bem simples: Windows.
Desenvolvo mais ainda esse raciocínio. Uma “pessoa simples” estaria muito mais sujeita a interrupções de telas atualização, instalação de sofwares maliciosos e adwares, acessos a áreas sensíveis do sistema do que usando um ambiente linux configurado.

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Se olharmos para os computadores, eles foram inicialmente criados para cumprir uma função específica: ajudar a vencer a Segunda Guerra Mundial. Somente depois foram “domesticados” para uso individual. A partir daí, emergiu uma nova forma de inteligência, a computacional, algo que vemos em cada geração à medida que novas inteligências são descobertas — como a inteligência política que floresceu na Grécia antiga.

Para não me alongar demais, o que quero destacar é que o estudo em questão busca compreender indivíduos com pouca ou nenhuma inteligência computacional. A ideia central é entender por que o Linux, por exemplo, ainda não é amplamente aceito fora do grupo daqueles com um nível elevado de conhecimento técnico. A solução para isso pode ser mais simples do que parece, e está ligada ao conceito de heutagogia.

A heutagogia é uma forma de aprendizado em que o indivíduo busca conhecimento por conta própria, movido por suas próprias necessidades, enquanto a sociedade oferece os meios para isso. No entanto, poucas pessoas nascem com essa predisposição, e menos ainda evoluem até esse estágio de aprendizagem. A sociedade, em grande parte, prepara os indivíduos para atender às suas demandas, e não necessariamente para buscar conhecimento de forma independente. A maioria das pessoas ainda está presa à pedagogia (onde há um mestre que ensina), e algumas evoluem para a andragogia (adultos resolvendo seus próprios problemas). Porém, menos de 30% chegam à heutagogia — um estágio em que o indivíduo não apenas resolve problemas de forma independente, mas também previne que eles aconteçam, sem depender de um mestre.

O ponto é que, como muitas pessoas não têm essa ânsia por aprender de maneira autônoma, vivemos em uma sociedade que pressiona os indivíduos a se encaixarem em profissões que exigem processos e ferramentas já estabelecidos. Isso acaba afastando aqueles que não possuem uma inteligência naturalmente voltada para aquela área. A solução, portanto, seria que pessoas com maior conhecimento, especialmente os heutagógicos, orientassem os que carecem dessa inteligência. Contudo, vivemos na era da imagem, onde pedir ajuda ou admitir falhas é visto como algo negativo. Se conseguirmos superar esse estigma, seria possível, assim como aconteceu na área da saúde com a conscientização sobre a importância da vacinação, expandir o conhecimento computacional para um público mais amplo.

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Algo que não ficou claro para mim, essa pesquisa foi realizada onde e por quem? Existe algum link para o estudo completo com mais dados?

@Natanael.755 você fez a pesquisa, coletou e analisou os dados?

:vulcan_salute:

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Essa opção, é uma pena que o n amostral é muito baixo pra generalizar

Bacana sua pesquisa.

Acho que, de maneira geral, deixando pré-instalados aplicativos ou similares que o usuário já usa e tirando qualquer barreira estranha que possa vir a aparecer na interface durante o uso, já aumenta e muito as chances de sucesso.

Meu “teste científico” (só que não), foram com crianças. O mais engraçado é que o fator mais limitante foi a falta de intimidade com o mouse e o monitor normal (não-touch). Eu tive que usar um joguinho (Gcompriz) para ensiná-los a usar o hardware kkk. De resto, bastou ensinar o que era minimizar e fechar janela, onde estava a “play store” e como pesquisar no google para descobrir se um jogo/app roda no linux ou não.

Mas a experiência mais curiosa foi com uma criança autista de 4 anos. Os pais disseram que ele tinha muita limitação cognitiva e não conseguiria mexer em um computador, muito menos jogar. Eu deixei ele brincar a vontade no Ubuntu com Gnome e instalei joguinhos do Tux. Mesmo sem ter experiência prévia, a velocidade com que ele aprendeu a usar o sistema e a jogar foram impressionantes. Não sei se o menino na verdade era beeem mais inteligente do que todos pensavam ou o sistema que é intuitivo. Claro que ele estava apenas “experimentado” o computador pela primeira vez na vida e não trabalhando nele como um adulto trabalharia. Mas foi bem legal ver ele usando as teclas de atalho pra navegar kkkkk

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Meu teste é minha mãe rodando o ‘arch btw’ sem saber o que é Arch ou GNOME. Ela sabe que é Linux porque eu falei que é um sistema diferente do Windows kkkk, mas eu preinstalei tudo o que ela usa: Zapzap, Firefox, Telegram, e o RustDesk para que eu possa atualizar à distância.
Dei um roteador antigo da netgear p meu irmão rodando openwrt ao invez da firmware original ele nem sabe disso :slight_smile:

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Oloko.

Até eu tenho medo de arch linux kkkkk

Deve estar bem redondinho o sistema.

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Nas versão educacional do TigerOS tem o Gcompriz-qt justamente por isso.
Estou com cerca de 450 máquinas com foco educacional.

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Bacana a pesquisa, legal ver uma abordagem com rigor cientifico!

Acredito (sem embasamento e no puro achismo hehe) que muito do uso do desktop Linux cai no costume. Minha mãe, por exemplo, nunca foi muito de usar computador. Usava um pouco ali nos anos 90 pra trabalhar com Office e era isso, ficou anos sem usar.

Lá pra 2011 ou 2012, não me lembro direito, eu instalei o Xubuntu numa máquina velha lá na casa dela e deixei. Com Windows 7 vira e mexe ela me ligava pra eu ir lá fazer manutenção, clicava em algo suspeito, a máquina simplesmente parava de funcionar direito ou ficava lenta. Depois que ensinei ela a usar o Linux (que acostumou rapidamente por não ter nenhum vício de outros sistemas) eu só ia dar manutenção pra atualizar de um LTS pra outro quando acabava o suporte ou eles mesmos atualizavam lá. Acho que até hoje esse notebook tá lá com Xubuntu 18.04 ou algo assim rsrs, zero dor de cabeça. Hoje com smartphone fazendo tudo o pessoal acaba usando pouco computador e ele ficou lá de canto encostado, mas depois que ensinei os veio a usar Linux e ter boas práticas pra manter o sistema eles aprenderam numa boa.

O fato do Ubuntu e derivados concentrar boa parte dos programas em uma loja de aplicativos também ajudou bastante, os problemas com Windows, geralmente, derivavam da dificuldade de conseguir baixar as coisas, jogava no Google e apareciam milhares de links. Uma pessoa que não é muito “tech savy” tem problemas pra diferenciar o que é legítimo do que não é.

Meu véio foi a mesma coisa, ele nunca foi de usar muito computador, então a transição foi muito suave, eles basicamente só usam suite office, navegador e o programa pra declarar imposto de renda.

O problema maior, acredito eu, reside na pessoa que já vem com o “vício” de anos de Windows, é mais difícil de mudar velhos hábitos, ainda mais se for uma pessoa com mais idade.

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Que estudo bacana. Minha experiência com as pessoas e o Linux é quase zero. Há anos atrás eu tentava levar usuários para o sistema, mas depois de um tempo parei porque eles ficavam vindo me perguntar como faz as coisas e uma hora a pessoa perde um pouco a paciência de ficar respondendo kkk. Na maioria das vezes uma pesquisa no Google resolveria.

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