Defendo completamente o Direito ao Reparo e me oponho às práticas que favorecem a obsolescência. Busco também sempre maximizar a vida útil de todo aparelho adquirido. Contudo, ao mesmo tempo me posiciono considerando uma visão que compreende aspectos da Engenharia.
O fabricante deste laptop framework adotou a bateria interna. E ele não está sozinho. Conforme mencionei, há inúmeras empresas no mercado que adotam um posicionamento de defesa máxima à modularidade e essas mesmas empresas utilizam baterias internas em diversos de seus equipamentos.
A compreensão desse fato não depende de justificativas dos vários fabricantes, mas da observação de vantagens que a adoção de tal alternativa oferece. Baterias internas:
- Reduzem os custos de fabricação, já que eliminam encaixes, contatos e circuitos extras;
- Reduzem o custo final do equipamento;
- Permitem utilizar o espaço livre dentro do projeto do equipamento - por exemplo, aquele deixado pelo obsoleto drive de DVD - para maximizar o tamanho da bateria e, consequentemente, a autonomia;
- Possibilitam a redução da espessura dos aparelhos, uma vez que se adaptam com maior flexibilidade a formatos variados e finos;
- Resultam em equipamentos mais leves;
- São menos suscetíveis a danos causados por impactos externos e à oxidação de contatos;
- Com baterias maiores e mais resistentes - dado o avanço das células de Lítio -, a durabilidade tornou-se muito maior e há possibilidade bem considerável da troca nem ser necessária durante toda a vida útil do equipamento.
Se você dissesse que deveriam existir mais alternativas de notebooks com baterias modulares no mercado, favorecendo o público que valoriza essa característica, eu concordaria totalmente. Contudo, dizer que a preferência por baterias internas é apenas uma “venda de ilusões” é uma informação que não corresponde à prática. Tanto é que empresas que defendem “com unhas e dentes” o Direito de Reparo (e estão de parabéns!) têm também adotado baterias internas em seus equipamentos, simplesmente porque as vantagens não podem ser ignoradas enquanto, ao mesmo tempo, é possível ter um procedimento de troca simples. E elas conciliam isso (um exemplo é o próprio laptop mencionado neste tópico: trocar a bateria interna não é mais difícil que adicionar um pente de RAM).
A imagem acima, retirada do vídeo, evidencia a perspectiva da Engenharia. Basta observar a portabilidade do aparelho, a disposição dos componentes e toda a área ocupada pela bateria.
Isso quer dizer que a obsolescência deva ser desconsiderada? Não! É sim possível que a empresa dificulte a troca da bateria de propósito, como a Apple, por exemplo, faz (não estou falando apenas do fato da bateria ser interna, mas de outras características que dificultam a troca). Mas nem toda empresa é a Apple… E atribuir isso de forma generalizada e ignorando os benefícios não é correto.
Raramente é preciso desmontar todo o equipamento para troca da bateria. Muitas vezes basta apenas remover alguns poucos parafusos, retirar parte da carcaça e puxar um conector (como no caso deste laptop framework). Já troquei algumas dessas baterias (apesar de não trabalhar com isso). Mas, mesmo considerando que diversos usuários tendem a não executar o processo por receio (concordando com o que você disse), trata-se de procedimento de rotina que mesmo assistências mais simples fazem rapidamente e a custo baixo. Portanto, não há fator realmente impeditivo para a troca de uma bateria, algo que é completamente diferente de ter a memória RAM soldada na placa.
Há muitas perspectivas a serem consideradas para a análise desta questão, e não acho justo julgar o fato como pura má-fé de fabricantes.