Foi-se o tempo em que o oráculo do Linux afirmou, lá nos anos 90, que os “homens serão homens e escreverão seus próprios device drivers”. Tirando a frase de cunho machista para este século, muitos poucos escrevem drivers pro pinguim e - se isto é condição sine qua non para ser “homem” - é motivo para muita discussão.
Não escrevo para trazer este assunto a tona, que não tem nada a ver com pinguim, opensource etc e tal. O problema é outro: SEM DINHEIRO NÃO DÁ!
Ou botamos a mão no bolso e sustentamos os projetos opensource ou não tem futuro. Ninguém vive de sombra, água fresca e bla bla bla. E muito menos pelo modo de trabalho ditado por Richard Stallman, o de se escrever código em colaboração nos finais de semana…
Isso já provou que não funciona e necessitamos de uma mentalidade profissional, com metas, prazos, ou seja, processos bem estruturados na construção de qualquer projeto opensource.
Se não fosse pela Canonical, Red Hat, System76 e outras empresas que existem ou existiram, estaríamos onde? No mesmo nível dos BSD’s? Ninguém vive de distro comunitária, trabalho colabnorativo, equipes de fim de semana e outras visões românticas.
Não existe almoço grátis. Contas precisam ser pagas. Programadores precisam comer. Hospedagem não é barata e somente o Debian, com seu modo de vida, não dará conta do recado.
Apesar das enormes diferenças de renda mundo afora, inúmeras pessoas podem justificar que não se pode contribuir universalmente, que tem necessidades mais prementes como água, comida, medicamentos…
Mas qual a base tecnológica para a resolução desses problemas mundiais? Sistemas operacionais, softwares para previsão do tempo, irrigação, produção de alimentos etc.
Se o sistema operacional/software opensource não alçar a si parte da responsabilidade na solução desses problemas, as desculpas de sempre impedirão que dinheiro seja vertido em quantidade suficiente para sustentar tais projetos.
Software opensource é recurso estratégico de qualquer nação e deve ser perseguido como solução viável e de custo suportável para muitos países pobres. Mas o dinheiro precisa vir primeiro. Temos de pagar por software opensource, pelo pinguim, por suporte.
Vejam o exemplo que dou aqui, mote do título acima: " KDE novamente operou com déficit em 2023".
O KDE e.V. divulgou o relatório anual de 2023. Enquanto eles fizeram muitas realizações e trabalharam muito no desenvolvimento do KDE Plasma 6, foi mais um ano que operaram no vermelho.
O KDE recebeu aproximadamente 350 mil euros e gastou 460 mil no mesmo período, a maior parte da receita vindo de clientes e patrocínios corporativos do KDE e de apoio a membros e doações.
Do total gasto, 317 mil foi com pessoal, ou seja, 91% com gente que come, bebe e trabalha mediante remuneração, como qualquer um neste mundo. Definitivamente não dá para viver de filosofia, pão e poesia.
Mas não pensem que foi um ano isolado. No anterior não foi diferente: entraram 290 mil e sairam 390 mil euros. Somente em 2021 sobraram apenas 20 mil em caixa. E como será 2024?
Se 1.000 pessoas doassem 5 euros mensalmente, o KDE receberia 600 mil/ano. Daria para cobrir as despesas e fazer mais algumas travessuras do porte do kde 6. E não é nenhum objetivo inatingível.
Do mesmo jeito que precisamos mudar nossa mentalidade no uso de sistemas operacionais opensource, precisa haver uma forma de que todos possam pagar em moeda nacional e a conversão ser fácil, sem necessidade de cartão de crédito internacional.
É assim que ocorre com a Wikipedia. Você doa em reais, paga pelo boleto (da última vez algo em torno de 1,90) e eles recebem o dinheiro para continuarem operando. Pouco mas frequente.
Mas enquanto esse meio facilitado não aparece, doemos para os projetos cuja forma de pagamento seja acessível a nós e os façamos viáveis para um futuro de longa duração.
Fonte: phoronix