A Metáfora do Desktop

Proposta de discussão em continuidade ao vídeo do dia 07.04.2020. (Resposta escrita também nos comentários do Youtube)

Excelentes comentários sobre o tema. No livro “Cultura da Interface”, Steven Johnson contextualiza historicamente o desenvolvimento e uma transcrição das nossas metáforas para uma dimensão virtual. Diante do quão longe já chegamos no desenvolvimento das IoTs (Internet of Things), a metáfora do desktop está sim bastante defasada, ou precisa ser radicalmente ressignificada para refletir a nova maneira como nos relacionamos com as tecnologias. Controladores de temperatura, Geladeiras Inteligentes, Smart TVs, todas essas interfaces foram incorporadas a antigas metáforas. É preciso repensar também o modo como o computador é projetado, não só a interface gráfica, mas também seu hardware. Porque limitar o hardware de uma máquina a uma caixa preta compacta? Parte dos problemas de desempenho diz respeito a geração de calor, portanto, dissipando parte de seu potencial de energia. Porque não agregar partes de um hardware computacional à um ar condicionado central no imóvel, por exemplo? Desenvolver placas que recebam pentes de memória que se estendam por um grande painel dentro de uma parede. Quem sabe um dia não transformaremos nossos lares numa nova metáfora para a máquina computacional?

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Eu imagino que tem várias limitações físicas como gastos energéticos exorbitantes, acho que só com o desenvolvimento da fusão nuclear pra algo desse tipo

Há anos que me interesso por abordagens diferentes para a solução do problema “interface”, durante muito tempo tive esperanças de ver o projeto Gnome Zietgiest evoluir, mas infelizmente ele acabou se tornando algo muito mais simples que é o Gnome Activity Journal que também não foi muito longe.

No android alguns anos atrás houve um projeto chamado “Chameleon Launcher” que propôs um launcher focado em conteúdo e ações, que de certa forma era uma coisa inovadora para o Android, porém o projeto entregou muitas promessas e pouquíssimo resultado se tornando uma grande frustração com o passar do tempo. Este projeto continua ativo, porém hoje não passa de um launcher com design diferente.

Espero estar vivo para ver projetos que tentem buscar novas formas de interagirmos com nossos ambientes de trabalho… serei um dos primeiros na fila do “beta”.

:vulcan_salute:

Alguém perguntou nos comentários do vídeo: “qual a diferença prática em relação as múltiplas áreas de trabalho”

Eu uso três Activities e cada uma tem nove Workspaces.

Como os Workspaces são organizados em grids 3x3, posso ir de qualquer um a qualquer outro com apenas um toque de teclado (Ctrl+Alt+Arrow, com duas arrow keys pra mover em diagonal)

Se eu quiser acessar meu outro conjunto de Workspaces (Activity), posso usar um atalho customizado ou alternar com Meta+Tab. Usando o custom shortcut, navego entre grids com um toque, e dentro do grid com outro toque. São 27 workspaces em no máximo dois toques de teclado.

Isso melhora meu workflow e lógica organizacional: eu já sei onde cada coisa fica e chego a elas sem precisar parar pra pensar. Os dedos se movem sozinhos.

Sem Activities, além do aspecto organizacional precisaríamos de grids maiores e mais toques de teclado.

Um dia, ao término de uma reunião, já com a porta semiaberta, eu lembrei meu Orientador que me enviasse um e-mail com um artigo. Ele respondeu “Oh, já envio agora”, e enviou usando o kmail pelo bash em menos de três segundos.

O “usuário comum” adora reclamar de “elitismo” mas é tão egoísta quanto. Se algo facilita a vida dos “usuários não-comuns”, desenvolvedores e afins, tanto faz pra muitos.

Um pouco mais de altruísmo não seria mal-vindo.

Ninguém usava a desktop metaphor consciente dela em 1995. Eu tinha 10 anos e lembro. Como lembro também dos dias de instalar placa de som e precisar setar IRQ no CONFIG.SYS. Demandava conhecimento mas funcionava. Aí veio o “plug-and-pray”: você plugava e tinha que começar a rezar.

Sim, dava menos trabalho do que aprender sobre IRQs e outras coisas. Em compensação, da forma antiga funcionava sempre. Já a nova, levou anos até ficar minimamente estável. O nome do sistema já era até Windows 98 ao invés de 95.

Uma vez eu instalei o GNOME Fallback e não tinha keyboard shortcut pra acessar o botão do painel acima à direita, onde ficam coisas como logout, shutdown e reboot. Eu levei quatro horas mas consegui fazer funcionar pelo teclado, usando Python com xdotools. Só gasta quatro horas quem tem certeza que o teclado é mais rápido. Eu tenho.

Acho que algumas pessoas querem facilidades demais, e que outras dependem delas pelo menos por algum tempo. Mas ambas estão no seu direito. O que é temerário pra mim, é que o Linux se transforme em algo diferente de quando eu me apeguei a ele, com Desktop Cube e Skydome no Compiz.

Sem esses efeitos, até mesmo os puramente estéticos, é melhor ser minimalista e correr pro bspwm, i3, ou nem usar o X.Org exceto para rodar aplicações direto, como mpv pra ver algum vídeo.

O que eu mais ando querendo ver ultimamente é um clone perfeito do Windows — desde os menus de contexto até as customizações e temas. Só assim essa massa se contenta e o resto de nós pode viver em relativa paz, sem ser ostracizado como “elitista”, e com um pouco menos de medo do KDE remover feats como Activities.

No Plasma 5, os Activity shortcuts não funcionam, mas eventualmente descobriu-se um workaround usando qtbus. O Graeßlin respondeu no blog dele aos críticos como quem não tava nem aí e ainda irritado com as críticas, como se fosse o dono da razão: “Estamos focados em X, e Y dava muito bug, se quiserem façam vocês mesmos.”

Sorte dele ter essa liberdade. Se meus programas tem algum bug, os professores mandam tirar o bug. Não a feature. E você que se vire! Está lá porque quis estudar CS! Agora guenta!

Sobre “fazer eu mesmo”? É, talvez com o tempo eu faça. E nesse dia, ao invés de falar pra todo mundo sobre as maravilhas do Compiz, mais tarde substituído pelo KWin quando adotei o KDE, não vou falar nada porque fui eu quem fez.

Daí todo mundo fica feliz — é o que parece às vezes: que se a horda de “usuários comuns” estiver satisfeita, o resto que se dane.

Irônico. É exatamente o que acusam “elitistas” de fazer com eles.

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Achei bastante interessante o vídeo. Porém eu acho que estamos presos nessa metáfora pois é um espelho do nosso mundo.

Saímos de casa e vemos lojas com fachadas gigantes, somos martelados pelo marketing até interiorizarmos a marca como valor. Até serviços que são de fornecimento exclusivo tem marcas (exemplo serviço de luz e água). Então como criar um desktop onde a “marca” dos programas não esteja em destaque?

Consigo visualizar um desktop voltado em produtividade e em tarefas, onde o usuário “monta” seu sistema escolhendo os programas para navegar, e-mail, calendário, etc… e quando usa-os não aparece a marca, eles são todos integrados ao sistema.

Mas ao meu ver seria equivalente a uma mudança no mundo onde os restaurantes não tivessem nome, mas sim apenas uma placa de “Restaurante”. Que a loja de roupas no shopping fosse a “Loja de Roupas”, que os carros fossem vendidos por “Compacto, Sedã, Utilitário” etc… Da mesma forma que centenas de programadores “perdem tempo” inventando um novo programa de e-mail, centenas de engenheiros estão reinventando diversos produtos. É uma grande perda de processamento humano ter 20 marcas diferentes de carros, a cada ano mudando omodelo e tendo que produzir e estocar peças de reposição em números cada vez maiores e mais absurdos.

Eu consigo imaginar que algo diferente pudesse surgir se a União Soviética não tivesse caído antes da massificação dos computadores. Consigo imaginar um computador diferente para uma sociedade alienígena que se organize de uma forma inimaginável. Mas para cada tipo de organização, o sistema de interação homem-máquina ou alienígena-máquina seguirá um modelo próximo ao modelo de organização da sociedade. Como falado, a Area de Trabalho tem esse nome porque seria análoga à mesa, as pastas como se fossem no antigo arquivo de papel.

Me forcarei nas interfaces gráficas

Não somos seres perfeitos, portanto sempre é possível que exista(m) conceito(s) melhor(s) do que o atualmente adotado, entretanto eu sinto que muitas pessoas (i.e., os desenvolvedores) têm uma ânsia de mudar por mudar, para dar uma de “moderno”. Não me interpretem mal, não sou contra inovações, eis algumas novas tecnologias dos ambientes gráficos que melhoraram a minha qualidade de vida:

  • Mudança de temperatura de cor da tela (como isso nunca foi pensado antes?)
  • Diferentes perfis de som quando usando fones de ouvido ou as caixas de som do notebook (é chato ficar modificando o volume quando você tira ou coloca os fones de ouvido)
  • Desabilitação automática do touchpad do notebook quando o mouse está conectado (pessoas cujo notebook tem touchpad pequeno não percebem isso, mas é um terror pra quem tem um touchpad grande, o tempo todo o ponteiro do mouse é tirado do lugar porque você bate a mão no touchpad)

O problema é quando removem recursos em nome de um novo conceito.





Dei uma olhada nesse conceito do Mercury, eu genuinamente o acho interessante, mas ainda é necessário desenvolver uma boa inteligência artificial para que ele seja possível.

Esse é um conceito de desktop que eu adoraria ver desde que não exagerem no minimalismo.





E não precisa nem ser de uma empresa. Se uma equipe desenvolve um software livre, muito provavelmente eles quererão ser reconhecidos por isso em vez desse software ser mais um “pedaço anônimo” dentro de uma “interface fluida”.